A SOBERANIA, CULTURA DO DESEJO

O nosso barquinho cuida bem das estrelas do céu, o nosso barquinho cuida bem das estrelas do céu, o sol do nosso barquinho nasce na estrela da manhã. A primeira estrela aporta no céu e desce o navegador por sobre as nuvens ancoradas.
A seus passos se formam os véus que cobrem, tocados de sensibilidade todas as faces deste ruído de surpresa, atraquei neste porto de águas.
Todas as águas que sobem aos céus, firmaram nesta linha ultima do tempo, o firmamento e sua origem. Os rios se imbricaram uns aos outros nesta folha aberta amazonicamente esverdeada.
Tão esverdeada que chega ao azul desta aquarela. Tal a luz do azul cai sobre o horizonte brazil, que explode o brilho amarelo em todas as pedras cristalinas. Paradas, viçosas, pequeninas rosadas nestas fontes quedadas em tantos vivos milagres. Vivos milagres sob suas águas, submersas escondem o fundo de segredos transparentes.
A ancora do tempo nesta carta de paus, a carta da navegação me trouxe aqui neste porto onde me reporto a você.
A ancora do tempo neste porto vai ao fundo onde as correntes se enroscam ao redor deste chão. Este chão, neste abraço do mar, aos seus abraços. Dou noticias de todos os outros, mas igual noticia não tenho ao que chega. Ao que chega, só a tua noticia consigo salvar. Saúdo estes país.
A ancora deste porto espero que baste o tempo de tua ausência. Que a ancora do tempo não se erga e se solte apressada e fuja neste mar para todos os mares precipitados num abismo ultimo.
A ancora deste porto, em tempo fique aqui bem plantada numa semente. Nesta semente rica e verdadeira como todas as sementes já nascidas, antes da mão do homem ter aqui o seu tocado. O bocado do primeiro asfalto de chão.
Deste porto que saúdo, não partam fingidas e dissimuladas rosetas. Machucadas entre si e esmaltadas de falso vigor, cheguem lindas e partam ridículas, diminuídas por tão portentoso escândalo de ambição alheia.
Deste porto não partam essas, mas todas as outras, perolas concisas deste solo feijão, germinado através da umidade do entrelaçamento do gozo das florestas, alegres, distintas, solidárias, espalhadas na sensualidade deste contorno.
Não é outro o porto que, aportado, realmente partilha esperança a outros povos. Não é outro o porto que, aportado, realmente compartilha a outros a possibilidade deste mesmo chão em outras terras.
A carta da tua navegação esta bem escrita, clara e translúcida no desenho de tua bandeira, tua freqüência. A tua bandeira não é escrava de outra senhora. O cruzeiro onde esta atracada este barco, aporta o meu coração como se aqui sempre estivesse estado. De onde pulsar e bombear as veias que irrigam o sentimento deste coração, atravessa as fronteiras como as suas próprias. Porque conhecidas, não é outro este mar para quem o sabe amar.
A soberania esta marcada desde sempre em cada rachadura do tempo nesta nave mãe. Circular e esférica como tudo aquilo que pertence ao universo, só a mão do homem em semelhança ao desejo de eternidade. Moldar sobre a terra seu próprio desejo: o resgate deste mesmo Deus ao longo das eras, em outro chão. O espelho das tuas águas...
Que este bem se estenda por sobre as águas, a todo tempo o tempo de seu bem, querer ao outro a mesma soberania. Em outra parte do mundo o mesmo desejo, embora ido, outro seja diverso chegado esteja.
Preciso, ao mesmo tempo, coincidam as suas vicissitudes, e deixem que a cor da terra seja a cor do seu povo. A soberania, a cultura do desejo.

Denise França.

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