A ROSA DOS VENTOS

Deixa eu te dizer... Pois eu disse, mais valia esperar. E foi, na urgência dos sonhos, sendo eles todos de amar alem do amado, de amar no sonho, o sonhado, abrir a porta e ver chegando, o que de tudo provei, alem do gosto sonhado, o inusitado.
Ai que eu digo, o que me chega é a tua vontade, estando no mesmo caminho, nem sei dizer quem encontrou antes. Antes eu via, quem encontrou primeiro. E, se quem espera da lugar, o mesmo tempo nos confirmava, vir a nossa vez. Dessa parte.
Nossa vez chegada, dessa parte de desejo. Ai querido, se eu sabia que o teu bem querer me cobria quando eu ainda não te conhecia. Não te conhecia ainda nos rios e, neles, teu rosto molhado apagava o suor da tua caminhada brava. Quantos homens caminhavam todos no ajuntamento dessa conquista. Era mais uma terra do que uma mulher...
A tua solidão devia ter estado por aqui comigo. Mas eu, ainda cedo de não saber, tocava o teu rosto, beijava o teu suor, abraçava teu corpo na calma da sombra que quebrava a racha do sol.
Por outra vez, quando te vi aqui, na praia, peão das primeiras horas da manhã, que o teu “bom dia” me fizesse parar um minuto, no foco dos teus olhos, dali dar um jeito de te olhar. Dar um jeito de te olhar, olhar melhor os modos dessa primeira meia mão de um encontro, um homem me dando atenção.
Coloquei o teu olhar dentro dos meus olhos, ainda não sabia que os meus sonhos caberiam em tuas mãos de homem. Ai querido, quantas vezes eu te abraço hoje, quando já sei a tua medida de dar o que eu preciso. Ai querido, se eu já cumpro este destino, você é o meu romance. O vento arrasta as paginas feito folhas pelo chão.
As folhas esquecem o que o vento escreveu, mas a memória do amor, coloca novas folhas em outro sentido.
Querido, nesse homem que encontro descendo as escadas, descubro outra escada que me leva ate o tempo onde fui amada, de tão amada me fiz rainha. De tão amada, de rainha me fiz serva. De tão amada, servi ao meu rei e me dei como esposa ao povo. De tão amada, sem saber o que dar, os teus filhos foram todos frutos doces, vestiam as estrelas do pai.
Querido, onde colocar em tão pouco tempo, tudo aquilo que vivemos juntos? Se penso, e penso longe ate alcançar, volto com a lembrança do teu olhar. Do teu olhar também mais longe, na tua escuta de tudo o que conto, é um outro olhar que me encontra.
Querido, o quanto tenho ficado neste amor e me curvado ate dentro da madrugada, sentada no teu colo, quando me leva nos braços ate a tua cama. E o meu corpo sucumbe ao teu cansaço que se espalha entre as minhas pernas, e outra vez eu te acho acordado cuidando da minha espera... Anjo meu, anjo da guarda.
Quando eu puder ... De te ver outra vez, aonde você vai estar, querido, nesse ponto da minha paixão? Feito dois que se amam, feito amantes, feito que se faz amor, eu, tua mulher. Você, meu homem. Homem honrado, homem incomum, especial, homem de rios escuros e fundos, homem de arvores grandes e altas, onde não se avistam as copas, homem de pássaros e ruídos. De manhãs úmidas e brancas, de pegadas fundas e profanas no lodo do chão, homem que chega e que parte.
Espicha o braço, desembaia a faca, descansa o chapéu, e me acha. Me acha logo neste oceano de segredos, e me separa e me escolhe como um tronco, como uma ponte, como a melhor medida entre todas.
Homem bom, homem desejado, homem que faz a madrugada se estender num compromisso ate o trabalho acabado, encerrado, explicado, posto a prova.
Esse homem, querido, a essa hora se levanta e fecha a porta, e encerra a resposta. “Meu amor, bom dia.” Depois de tudo, feito o gasto das horas dobradas, diz “meu amor”, e se conduz, colocando em mim esta palavra como uma chave por dentro. E eu, nada posso fazer, senão dar o meu beijo e entregar nas suas mãos o meu corpo. E ser, tão tranquilamente mulher, neste momento próprio: de ter todo desejo, por tão forte desejo de um homem livre e só. E que chega para me encontrar nua.
Eu te amo. Alcanço teus caminhos, me encaixo nas tuas pegadas, nos teus passos sou a vigia das horas. Sinto o teu cheiro na trilha dos ventos. Me jogo sobre você num único salto e a fera escondida dentro de mim encontra o laço do teu amor.
Das montanhas e dos ventos, da clareira de todo tormento, você, sargento, chegou a me passar o seu comando, de uma guerra sem sentido, de um coração sem dono.
E o sargento me diz: não há jeito de errar. Sobre a escuridão das selvas, não há jeito de errar. Não há sorte ou destino, a meia medida e pisar aonde pisar. E que o salto não se afunde na escuridão, e que o seu salto goteje sobre mim, mesmo um pouco me faca livre e espaço de um começo.





DENISE FRANCA.

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