A Essência das Flores

A expensas de tudo o que é humano, demasiadamente humano. Olhei o mar, as ondas me sorriam. Claro que este é um conto clariceano. Em algum lugar havia um relógio Sveglia e mais clariceano que “Brasília”, e o Presidente Lula na Antártica. Como e de que maneira, meu DEUS, jogar futebol aqui?!
Olhei o mar, havia pressão e revolta naquilo que via. Este ano, as férias de verão, 10 dias para eu sentir e transpassar o fio do meu destino, a pele e o sal e o sol. Mais clariceano que os contos de Clarice Lispector, é Denise França reinventada. Pois esse outro amor, sinto, como são desumanos os amores ordinários, como são desumanas as sessões na Assembléia Legislativa do Paraná, para quem não conhece de fato o meu amigo Requião.
Eu parto de um princípio, eu olhei o mar. O meu humano amor não é mais humano para o ideal dos homens. O meu amor humano, eu sinto a flor da pele, é eterno. Como olhar o mar pela primeira vez...
Eu estou dizendo, é a primeira vez que te vejo. Mulher, muito mulher, vejo o mar: é a primeira vez que te vejo! E o meu homem vai chegar em seguida por aqui para me amar, e o mar molhará o fundo dos igarapés. A água doce que passará por nós dará a razão do nosso limite.
Eu parto de um princípio: eu olhei o mar. O Presidente LULA vai “quebrar o gelo” na Antártica, disso eu tenho certeza. Fabrico o meu amor hoje, para qualquer desconhecido que apareça. Agora mesmo, mesmo que o meu amor seja antigo, o de hoje é mais sagrado.
Reencontrei você, amor, lá no mar. No mar todos os seres se transformam, procuram ver o fundo das coisas e o mar vai trazendo coisas e pensamentos a tona. As classes emergentes, passam de Matinhos a Caioba, e chegam até as areias impróprias para banho, aonde armam suas tendas de sombra.
As sacadas nesta área nobre, guardam as barbatanas de desusados desembargadores, juízes promissores, juízes que já foram. No seu fórum praieiro, as túnicas descansam no seu fácil motivo, enquanto o espírito de uma causa se deposita em cima da mesa, na poeira clara, quase branca, de cartas embaralhadas, desmaiadas, o assombro do mesmo naipe em todas elas...
Há uma tendência demasiadamente humana pela sombra ou escuridão. E a revolta do mar vem me apresentar esse empuxo. A arquitetura em movimento das ondas fabrica exatamente a feitura do som. As conchas e caracóis marinhos... Desde o abismo profundo onde nenhum homem jamais tocou, a ressonância desse estudo do silêncio.
Na concha da minha mão, a urgência do meu pedido: um punhado, se este punhado servir. Qualquer coisa de irrisório como a alavanca do tempo, as areias que descem por esta passagem marcam a hora desde onde começou este flagelo, para onde vão as pegadas e o movimento das dunas.
As sombras que se fabricam com o resto do tempo, com tudo aquilo que não foi feito e nem realizado, o arrasto das sobras, o cotovelo oblíquo do desejo. O desejo negado.
Eu parto de um princípio. O mar me vê, mesmo que eu dê as costas a ele, ele me vê de todos os lados, todas as maneiras. Mas não há em nós dois o propósito de olhar, mas o de amar vendo. Que eu te vi sempre, vi pela primeira vez, quando já ias embora. O mar chorava minha partida e pedia para eu voltar, o mar da minha infância...
Costumo deixar que as coisas se encaminhem, simplesmente do modo mais fácil: eu ir para a frente e, indo, saber que tudo que era ficou para trás. O modo mais difícil é voltar e não ver mais quem ficou.



Denise França.

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