EU POSSO TE AMAR

Eu te amo : Eu também. Não é para quem quer, só para quem pode. A urdidura da palavra nos leva a isso: ate o chulé da palavra chula: não serve o amor aos fodedores. O rombo, deste buraco negro surge o chuleado. Sentado a luz angular, as meias medidas dos gastos, no calcanhar deste Aquiles, passam, antes que se cumpram os tempos, o primeiro ginete alado de um simplificar. Um simplificar, a primeira medida exata de um amor amado. Na amanhecença do dia, na quase hora, o ginete alado chega, cismado acode pra cumprir a ordenança. Que se diga outra vez: nesta hora. Não há de ser depois, na hora vinda, porque então é demais tarde. O bem-amado só chega nesta hora, antes do clarear. Como no primeiro dia da semana, assim de traves parece folga e é trabalho.
Meu Bem-amado chega assim, na minha surpresa quase afogada, quando recebo o beijo abraço de já ter estado com ele nas minhas idéias. Meu Bem-amado não folga na minha espera. Quando chega, desfruto no cheiro do seu cangote a idéia melhor, de tão querido estar como me agarro a tua, aquilo que presto com o tempo da saudade. Meu Bem-amado tem conhecimento do meu sobre-ser, ou quase o espírito dele vem antes dele chegar. O querer dele é meu pensamento. Não tresvaria, mas tem febre de paixão, sinto na pele. Depois, um bocado de roçar pele na pele, gosto no gosto, resolve. Meu Bem-amado pode vir de distancia tão grande, pode vir de tempo tão grande. Meu Bem-amado enche minha variância, suspende o solilóquio, não me deixa cismada, me coloca quentura no espírito de eu saber que também nesta distancia, meu tempo chegou ate ele. Meu Bem-amado que eu posso deixar por ir a qualquer outro pouso, volta, sempre de experimentar o gosto do meu beijo. De outra vez, em mais uma vez, pra confirmar se o meu beijo ficou e não foi. Meu Bem-amado volta sem ser por medo ou tormento, mas sendo por vontade e gosto de eu ser assim, sendo eu mais ele, um só. Meu Bem-amado, nem nisso eu acreditava que pudesse me afinar a alma, no fim quando o desanimo pudesse ali o principio de uma desluz, encontrasse prestado auxilio meu precisar. Meu Bem-amado custasse todo o rebimbar de um querer, na carência das minhas horas, achasse surpresa de sozinha dar dessa falta de tudo, o mais necessário, não remediar por covarde fosse o precisar. Meu Bem-amado, a fidelidade me conta. Quando de todos desistem as suas façanhas, e vão esses todos, por fora, dizer que aqui não estavam. Noutro lugar acudiram suas melhoras, meu mal por essa força ditosa do traído, vejo que um as vezes é mil. Que mil é quase todas as vezes o nenhum. Força ditosa de ir com a verdade por todo o caminho sem ninguém. Meu Bem-amado no soçobro ultimo de um expirar, aparece dianteiro numa alegria, final de tudo ter valido a pena. Meu Bem-amado eu posso te amar. De a cada momento, formando um eterno. Agora é o meu sempre, meu Bem-amado esta nesse tudo, mas nesse tudo depois que se bastam as idéias e delas fica o mais bonito, aquela perola sendo a menina, aparecida criança, primeira alegria. Meu Bem-amado não faz aparte com qualquer coisa de ruim. Não é contrario de mal, nem é mal transformado por descaso de credito. Meu Bem-amado é amor mesmo, só entende de amar e de mais amar. Amor-amado é o meu. Lá se vai o meu amor mais do que amado. Urdido nas pedras e nos calos. Amaro e amado nessas curvas do tempo, não garanto que este bem-amado faça parte do mais próximo, do ate que vem de quando e onde se teia vida toda, e achado na mais miséria do desconhecimento. Quando se passeia o rosto e se descobre no outro alheio, o acolhimento para entrar no coração e ali, fazer morada. No mais distante onde eu procuro, meus olhos se divertem com os dele. Meu Bem-amado que deamo na criatura mínima de uma sabia passarinha, de um vôo do que quer, chegado sempre meu sonho que, de tudo, uma novidade reproduz, faz os olhos quantas vezes, a cada vez outra diferente se vê. Feito a tua mão, se nela peleja uma vontade, sei que sai, sobrevém redobrada a força, o destino ali me toca, falta cumprir estrada, mais no perdido destino do que no achado, vem de encontro um pouco da sina do outro. O caminho é sempre o caminho do modo com que a vontade anda, se tropeça, o caminho é duvidoso, se alonga, a vontade espairece nas divisas. A obra do destino se vê na miudeza das coisas, que o olho sobre as coisas se veja com a razão de lá estar, pra pegar o rumo ate o derradeiro do caminho. O destino cumprido só o coração descobre, assim o rio que chega na várzea, se espraia e se acalma. Uma verdade, se for a verdade do que é, sem ser verdade contada por dizer do alheio, essa verdade se firma e se mistura com a verdade de mais alguém. Um dia que menos se espera, olhando fixo no horizonte, se pode abrir o novelo do destino e entender o ocorrido do passado. Atinar a procedência. O pensamento tem idade, de cada tempo olhando a mesma coisa, outra coisa toma forma. Lá na frente se vê melhor cada principio. Cada principio de amor por exemplo, vem de uma semelhança, de um se assemelhar num pedaço de aparência do outro, como um pedaço de si mesmo esquecido, não lembrado. Meu Bem-amado sabe o que eu preciso saber. E eu deixar que ele me habite, e ele me faz. Eu posso ter a pressa mas ele me suspende pra um pouco eu ficar. Assim eu espreito o ribeirão de cada pessoa. A pessoinha que vai se criando depois de umas palavras em lugar direito, sai daquela bruteza de gesto e sentimento e vai se acertando no pensar e caminhar. E aos poucos de a gente se afinar em simpatia e credito, que a estima entre as partes toma vulto e se consolida.
Denise França.

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