A COMPOSIÇÃO DO BEIJO (16) - DENISE FRANÇA

Curitiba, 13 de julho de 2012.

"ENSAIO DE LUZES" (FICÇÃO): TEXTO DEDICADO AO DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE

INSPIRAÇÃO DÉCIMA SEXTA:  LILÁS


Meu bem-amado, no inverno, frio Curitibano, a saudade carecia de quebrantar o orvalho cristalizado... Aquele céu azul, andava pelo parque e alcançava mais viva a lembrança dele. GIKOVATE chegava-me ao coração desta forma, como um habitante de outro país... Ele trazia consigo outras fontes e outras paragens. Atentamente eu observava o sol e o orvalho cristalizado se desfazendo nas plantas.
Todas as vezes que voltava de São Paulo e o deixava, ele sorria e logo seus olhos ficavam úmidos... doloridos.
Nosso amor era um acontecimento presente, fecundo, e ao mesmo tempo, tanto eu quanto ele, alcançávamos este amor em outro tempo, como se assistíssemos a um filme. A distância e o longo tempo de espera causava essa sensação de nostalgia, calma, esperança e alegria.
Andava em meio ao sereno, ao mesmo tempo GIKOVATE folheava livros, anotava em seus rascunhos frases, modos, manifestações humanas, e quando o final da tarde chegava, ele retirava seus óculos, andava até a janela, olhava através e sentia essa mesma nostalgia.
Ao longo daqueles dias, nosso amor tornara-se um chamado, um signo da presença especial de cada um. Como não podíamos tocar um no outro, na tez, na pele, no rosto, na intimidade do nosso prazer, retirávamos essa sensação em pequenas detalhes no dia-a-dia, uma criança sorrindo, uma xícara de chá, um olhar nas horas do relógio antigo, um raio de sol que transpassa a cortina, os pássaros, e principalmente aquele silêncio no meio de todos, o ruído de todos....
Sentíamos o nosso amor assim, entregue, presente.
GIKOVATE observava essa mesma saudade e nostalgia em seu cachorro doméstico, que se acostumara a minha presença, ao meu amor. O cachorro se deitava no tapete, como se esperasse eu chegar, e Gikovate acompanhava com entusiasmo essa solicitude canina.
Essa manifestação gratuita e espontânea da presença do outro através da saudade, deixava-nos atentos ao sentimento, num espaço de calmaria, ânimo, doçura e delicadeza.
Nesta contemplação da saudade, a natureza nos observava, e sentíamos fazendo parte deste retrato, colocados ali simplesmente pela urgência do sentimento, e pela sintonia recíproca.







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