A COMPOSIÇÃO DO BEIJO (06) - DENISE FRANÇA

Curitiba, 16 de junho de 2012.

"ENSAIO DE LUZES" (FICÇÃO): DEDICADO AO DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE

INSPIRAÇÃO SEXTA: MARROM

Lembro-me do ponche e do frio. O significado daquela peça de cristal onde se escondia a sobriedade das horas, prestes a desmaiar com a madrugada. A adolescência das nossas vidas reclama aquela falta de sobriedade e nos entrega a letargia vinda do ponche. 
A substância do artificial, os cubos de açúcar ajudavam na leveza... 
A valsa começava, as meninas escolhiam seus rapazes, e todos eram um único par de  brincos na sociedade.
Pequenos homens de abotoaduras. A sensação da delicadeza do cristal, e o peso maciço do chumbo.

Gikovate dançava muito bem. Fôra até a varanda comprida, ao redor de uma mesa, tocava a transparência líquida, e os pontos nevrálgicos da vida: o que causa  a dor e o prazer.
A intensidade do estímulo, tudo não pode ser dito.

TUDO NÃO PODE SER DITO.

A mansidão com que ele chegou, atropelou todas as minhas horas. Gikovate sabia do amor, suas aparências, a formatação, a destruição dele, e os seus resíduos. A intuição deste outro espaço se abre aos poucos, a compreensão dos signos deste espaço pertence ao espírito, como quando se acomoda uma luva ás mãos.
O tempo passa. Não, o tempo e sua trajetória não definem a vida. A vida é outra coisa, e Gikovate em sua insistência lógica, catou todos os filamentos musculares deste gesto em direção ao outro.
A medicina não era o suficiente, assim como não é suficiente buscar o ângulo aos geômetras.

Eu beijei no beijo dele, o que não era compreensível e nem aceitável a outros homens. 

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