OS DILEMAS - DENISE FRANÇA

Curitiba, 15 de agosto de 2012.

CARACTERIZANDO SITUAÇÕES:  OS DILEMAS

A HISTÓRIA DE ROBIN





Apresento o personagem desta realidade que vou lhes contar: o Robin.

Eu conheci esse cachorro numa festa de aniversário na casa de minha tia Lourdes. Estava ali na cozinha, junto aos demais familiares e então olhei pela janela  e vi, era o Robin. Fui até lá onde ele estava e me deprimiu profundamente o estado deste cachorro. Ele estava com duas bolas enormes de pêlo na orelha, estava todo sujo... Nossa, muito triste.

Este cachorro tinha sido dado a minha tia por sua filha, Carmem. A Carmem se casou, e foi morar longe. E, minha tia também arranjou um companheiro, e o cachorro foi ficando nos fundos da casa,  jogado as traças. Minha tia estava velha para dar conta do cachorro, e o companheiro dela,  mais novo, era um sujeito extremamente grosso, estúpido, batia no cachorro sem dó nem piedade. Era o típico machão de cozinha.
Este animal se tornou bravo, a ponto de ninguém chegar perto....

No dia seguinte ao aniversário, fui até lá de manhã, pra conhecer essa figura, O ROBIN, mais de perto. Realmente, ele sequer deixava encostar no pêlo, e rosnava... hahahahahaha.  Olhei de perto o estado dele, precisava de um banho, precisava cortar as duas bolas de pêlo das orelhas, e também na parte traseira, embaixo do saco, coitado, não podia nem sentar.... e o canil estava todo sujo, nem sei se o infeliz do companheiro de minha tia, trocava a água para ele...

Então, peguei a coleira, e convidei o ROBIN para passear. Ele olhou, e ficou entusiasmado, embora desconfiado. De leve, coloquei a coleira no Robin e fomos passear. E assim, consecutivamente, todos os dias... E ele foi adquirindo confiança em mim...
Havia também outras duas cachorrinhas, a Kelly, uma poodlezinha branca e a Lydinha, uma cooker:


Minha tia cuidava destas cachorrinhas.

Então, meus queridos, chegou a hora de dar banho no Robin, fui até uma veterinária, próxima, e expliquei a ela as condições do cachorro, e pedi que desse um banho nele... O Robin sequer deixava colocar a focinheira, era impossível. Saí e deixei o cachorro lá.
Depois de um tempo, a veterinária me ligou e disse que não foi possivel dar banho nele, porque era muito bravo. hahahahahahaha.
Então, minha gente, tomei a decisão de fazer isso sozinha. Peguei uma bacia grande, esquentei água, misturei a água fria, tudo isso na frente dele, e fui conversando com ele: olha, meu amigo, este aqui é um banhinho maravilhoso que você vai tomar junto comigo, e se você me morder, eu não vou ficar com raiva de você, mas espero que isso não aconteça, porque é para o seu bem... E, conversa vai, conversa vem, ele me olhava, olhava a água....
Daí então, coloquei a coleira nele, segurei a coleira com uma mão, e com a outra, aos pouquinhos fui derramando a água, e ele foi percebendo que não era perigoso, começei a esfregar o sabão, e foi indo. Aproximei a tesoura de minha mão, e chegou o momento crucial, ou vai ou racha. Mas foi. Consegui cortar as bolas de pêlo das orelhas, e milagrosamente, as do traseiro dele, que machucavam o saco do pobre infeliz....

Sequei ele com a toalha, tudo isso conversando e brincando... e assim foi, precisam ver a cara de felicidade dele.... e o sorriso....
O ROBIN começou a confiar em mim, e, mesmo assim, tinha uma coisa que ele não deixava eu fazer: pegar no colo. Ele era um cooker muito grande, pesado, e eu segurava por baixo, e brincava que ia pegar ele no colo, e ele já rosnava desconfiado...
Eu olhava pra ele e dizia: um dia vou te pegar no colo...

Passeávamos todos os dias, um grande passeio, e o Robin passou a ser o meu querido amigo. Eu amava aquele cachorro, porque vi todos os passos que tive que fazer para ganhar  sua confiança e vi como um animal se transforma mediante o carinho, atenção e cuidado.
O único entrave entre mim e o Robin, era o marido de minha tia. Eu dava banho no Robin, lavava o canil, limpava a calçada, deixava tudo arrumadinho, e quando chovia, no outro dia, aparecia lá e via o animal todo sujo, sequer tinham o cuidado de deixar ele num lugar seguro.
Mas, a companhia do Robin era melhor do que tudo aquilo ali...

Outro acontecimento que mudou os fatos: minha tia, velha, que eu também cuidava, porque ela tinha síndrome do pânico, e o seu estado se agravava porque o companheiro dela brigava com ela, a ameaçava e daí se manifestavam as crises... Conversava muito com ela, e a minha companhia por ali, em sua casa, ajudava...
Então, numa tarde, ela tropeçou no degrau da escada, e quebrou o fêmur. Levaram para o hospital, e no dia seguinte fizeram a cirurgia. Saiu da cirurgia, mas logo em seguida morreu em decorrência de uma embolia, porque o líquido proveniente da quebra do osso entrou na corrente sanguínea, e formou uma espécie de coágulo...
Foi tudo muito de repente para todos....

Chorei bastante porque gostava dela, e apesar de sua morte, no dia seguinte ao enterro já estava lá em sua casa de novo, cuidando dos seus cachorros, resolvi cuidar dos três cachorros.... E assim foi. Dava banho em todos, limpava o canil, calçada, fazia a tosa deles, etc e tal. O advogado deu o direito deste companheiro de minha tia, ainda residir na casa dela, embora ele não fosse casado com minha tia.
A contragosto ele me via todos os dias ali, cuidando dos cachorros. E sempre com aquele ar de senhor, arrogante, indelicado, e estúpido. Mas eu continuei cuidando dos cachorros porque eles precisavam de alguém que fizesse isso.

A situação foi ficando cada vez mais insuportável... Eu percebia que ele realmente não queria que eu cuidasse dos cachorros. Mas, aquela casa, assim como o terreno era herança de meu avô, Joanin, e por isso, jamais eu iria deixar de entrar ali e cuidar dos cachorros de minha tia.

Um dia, a empregada que me contava tudo o que acontecia ali, inclusive a maneira sórdida com que era tratada por ele, me disse que ele iria ligar para falar comigo sobre alguma coisa. O infeliz ligou e disse: "Não quero mais que você venha aqui cuidar dos cachorros, vou soltar eles no sítio....".   Nossa, meu sangue ferveu, e daí eu disse a ele tudo o que havia engolido esse tempo todo... Não teve outro jeito. Liguei para a minha prima, filha de minha tia, Carmem, e contei o que havia sucedido. Ela veio até minha casa e disse que ia pegar a Lydinha, e levar para sua casa, e eu ficaria com o Robin, e ele ficaria com a Kelly.
Foi o que aconteceu.

O Robin veio para a minha casa, já haviam aqui, três cachorros, mas eu dei um jeitinho de conciliar esta situação. Jamais entregaria o Robin a uma pessoa como essa, execrável....

E, aos poucos o Robin foi se adaptando a esta casa, e as pessoas da família.
Senti que o Robin ia morrer quando um dia, desmaiou na rua, e depois acordou. Ele já estava com a idade de 15 anos.... Adorava passear, era um cachorro feliz. E agora, eu abraçava ele por baixo, e conseguia levantar ele, e depois ele se fazia de brabo mas entendia o recado e gostava desta brincadeira. Eu abraçava o Robin, a gente rolava pelo chão, e era a coisa mais linda do mundo....
Um dia ele começou a tossir, e desmaiar com frequência, eu então percebi que estava no fim.
A veterinária veio aqui em minha casa, disse que era questão de tempo, não duraria muito.
E, no dia de sua morte, eu fiquei sentada ao seu lado, e ele latia, latia.... Não me deixava sair de perto. Quando eu saía, ele latia, daí eu voltava, e colocava ele no meu colo, e aguardava.... Nossa, chorei muito neste dia....

Então, ele deu três latidos pro alto, esticou as patinhas, e morreu.... Eu não tive como controlar minhas lágrimas, que renascem neste momento de lembrança.... Chorei por um GRANDE AMIGO....

Esta é a história do ROBIN.
A Kelly continuou ali com ele, sendo mal cuidada. Eu cuidava da cachorrinha às escondidas, pulava a cerca e ia cuidar dela quando ele não estava em casa.... Era preciso.

PORQUE EU FALEI EM DILEMAS?????  COMO RESOLVER UM DILEMA????

Está aqui a conclusão:  O Robin e as outra cachorrinhas, precisavam de cuidado. Eu sabia que tinha que resolver este dilema, porque havia a presença cruel do Adinel, companheiro de minha tia.
Aprendi que na vida, não dá para ficarmos em cima do muro. Diante de um Dilema, temos que escolher.
Eu escolhi cuidar deles e sofrer o que viesse da parte deste canalha... Foi o que fiz, anos e anos... e fui até o fim cuidando deste cachorro.
Meu melhor amigo. Amar alguém, é mais importante do que tudo.... Chova, ou caia granizo, eu sigo em frente, no compromisso que assumo, ATÉ O FIM.

 O ADNEL OLHOU PRA MIM UM DIA E DISSE:
"O QUE VOCÊ VEM FAZER AQUI????"

EU DISSE:
"ESTA CASA É DO MEU AVÔ. VOCÊ SE LEMBRA DE QUANDO IA VIAJAR COM MINHA TIA, E EU CUIDAVA DOS SEUS PASSARINHOS?!"

ELE DISSE:
"CUIDOU PORQUE QUIZ!!!"

EU DISSE, OLHANDO FIXAMENTE NOS OLHOS DELE:
"VOCÊ É UM SAFADO!"

E SAÍ.







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