A COMPOSIÇÃO DO BEIJO (22) - DENISE FRANÇA

Curitiba, 1º de agosto de 2012.

"ENSAIO DE LUZES" (FICÇÃO): TEXTO DEDICADO AO DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE.

INSPIRAÇÃO VIGÉSIMA SEGUNDA:  BLUE JEANS

A paciência de Gikovate  era notória. Os dias dele eram pautados na disciplina, os horários, os compromissos. Raramente ele faltava a seus compromissos, e era extremamente metódico. Talvez isso parecesse um tanto chato, mas esse sistema o ajudava a encontrar as coisas em seu devido lugar, para que não perdesse tempo e comprometesse seu trabalho.
A desorganização em Gikovate não era um móvel que fizesse parte de sua vida. A minha função muitas vezes era quebrar este excesso de disciplina e deixa-lo entrever outros espaços. Mesmo tomando um cafezinho, ele observava tudo ao seu redor,  tinha essa rapidez de estabelecer os vetores num ambiente, compor um ritmo, porque este era mesmo o seu modo.
Nossos momentos juntos não significavam o extraordinário em nossas vidas, simplesmente o relacionamento humano de um ao outro, assimilando as nuanças, o sentimento, o carinho, o desejo.
Algumas pessoas não conseguem imaginar suas vidas sem dependência emocional. Eu, ao contrário, não crio laços de dependência, e um homem que me submete a algum tipo de jogo desta natureza, não me traz bem-estar, não sinto tesão por homens assim.
A presença efetiva significa este contato com a natureza da outra pessoa em sua complexidade, habitamos este campo quando estamos juntos a esta pessoa, quando nos ocupamos de pensar acerca desta pessoa, mas isto não nos possibilita exercer qualquer tipo de domínio, ou laço emocional que interfira na liberdade de pensamento, de ser, de sentir, de se manifestar, de expressão do outro.
O amor nos vincula ou outro, mas a cada dia precisamos libertar o outro, e nos libertar dele. Do contrário, a acomodação e o vínculo que cria esta estratégia de dependência, se voltará contra a nossa própria pessoa, e nos impossibilitará de calcarmos a nossa real função humana: não estaremos mais vendo o outro, mas criando um outro a partir das nossas necessidades, e se relacionando com este "sintoma" e efeito de aparência. Não estaremos nos relacionando com uma pessoa efetiva.
Essa desconstrução da imagem, todos os dias precisamos realizar tanto em nós mesmos, quanto naquilo que pensamos ver. Aquele ser não nos pertence, nós não pertencemos a ele.







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