A COMPOSIÇÃO DO BEIJO (22)- DENISE FRANÇA

Curitiba, 04 de agosto de 2012.

"ENSAIO DE LUZES" (FICÇÃO): TEXTO DEDICADO AO DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE.

INSPIRAÇÃO VIGÉSIMA SEGUNDA: DAMASCO

O afrodisíaco. Escutar o barulho do mar, a noite, as estrelas, o vento nos cabelos, isso tudo para algumas pessoas não representa muita coisa se não estiver associado a algum tipo de artifício. Para mim o mais natural e sensível me causava muito prazer, quase o mesmo bem-estar de uma companhia agradável.
Não me sinto sozinha em nenhum momento. Estou falando da angústia e ansiedade, o desconforto de ser vista andando em todos os lugares sem nenhuma figura ao lado... Aprecio e gosto de me conduzir sozinha, converso e interajo com as pessoas que vem ao meu encontro.
E GIKOVATE vinha em minha direção outra vez, não eram iguais os dias com ele. Embora fizéssemos tudo o que fazíamos no dia a dia de nossas vidas particulares, quando estávamos juntos o movimento era o mesmo, mas a emoção dos olhos dele, e dos seus gestos, sua expressão, o tom de voz, tudo isso enriquecia as coisas diárias. A imantação que permitia olhar outra vez, e mais uma vez, e outra, os olhos do amado, e saber que era uma nova e promissora vez.
O segredo. O corpo do segredo é olhar novamente.Olhar mais uma vez e se deter neste olhar. Este olhar, não é o olhar em sentido visual, mas o olhar em seu sentido perceptivo. Conseguir enxergar o outro. O que não é tarefa fácil....
E era importante para nós desconstruirmos a imagem:
Nós dois ali, eu e ele, ele e eu,  a noite estrelada, de mãos dadas, olhávamos o céu e escutávamos o barulho do mar. O mar não saía das nossas mentes, as ondas quebrando, e eu segurava a mão dele, e ele segurava a minha mão. Silêncio nosso, nosso silêncio. Segredo e anatomia da natureza humana, afrodisíaco momento.
Pergunte se nós dois acreditávamos no romantismo. Pergunte.
Existiam coisas impossíveis para Gikovate: o mar era impossível.
Ele me olhava olhando o céu, fixa, e feliz, apaixonada. E esta imagem subitamente se rompia, e ele ficava apreensivo, porque cuidava de mim neste momento. Vamos, querida, disse.
E eu olhei os olhos dele que me olhava cuidando de me ver, e respondi: pode ir, querido.
Organizou a pálida cor em sua tez, imediatamente soergueu, e eu o vi partir, sem olhar para trás.
Eu o vi partir pela primeira vez, com as mãos no bolso, andar, sozinho no andar, sem mim, absolutamente concreto, frio, responsável, racional, imantado e sem perguntas.
Não senti medo de perdê-lo neste instante, mas descobri o seu ciúme.


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