A COMPOSIÇÃO DO BEIJO (32) - DENISE FRANÇA

Curitiba, 23 de setembro de 2012.

"ENSAIO DE LUZES" (FICÇÃO): texto dedicado ao DOUTOR GIKOVATE.

INSPIRAÇÃO 32ª:  pistache

Acompanhava com meus olhos o caminhar de GIKOVATE... Naquele dia frio, cinzento, observava-o circunspecto, de paletó preto, com as mãos nos bolsos, saindo depois de todos, a andar naquele vasto corredor gélido, e ao seu redor a herança dos mortos... .  Não dizia nada mas estava surpreendentemente sozinho. Suas mãos estavam suadas e geladas.
Um estado febril que vinha de seus pensamentos. Essa angústia feroz e implacável o detinha além de mim, inabalável.
O verdugo algoz, sem complacência nenhuma o detivera naquele momento. Era inútil chamá-lo a si. A lâmina de seu olhar retesava a brandura de minha tentativa. Sua voz estava embargada pelo contingente de emoções. Eu sei que ele não gostava de se sentir assim, lhe parecia contraditório em razão de tudo aquilo que acreditava e administrava.
Pensei, quanto tempo durará este gelo demolidor, bem pior do que toda e qualquer embriaguez....
Quando ele chegou ao portão, e estava abrindo para finalmente escapar daquele lugar, eu apressei meus passos, e corri até ele, chamei seu nome: Gikovate, espere.
Esperar o quê?!, finalmente disse. Eu respondi: você acha que tudo se explica, eu não estou aqui com vc, isso é possível?! Alcance-me com a tua mão, faça isso, sinta....
Isso passará. Foi o que ele pôde me adiantar, sequer teve forças para retrucar.

Desta vez no entanto, eu não fui embora mesmo sabendo que era isso o que ele esperava que fizesse. Entrei no carro, e ele a contragosto me levou junto até sua casa.






Comentários

Postagens mais visitadas