O ESTÔMAGO

COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ.
CURSO DE PRODUÇÃO EM ÁUDIO E VÍDEO.
MATÉRIA: ANÁLISE DO DISCURSO FÍLMICO.
PROFESSOR: ANDRÉ DA VEIGA BARROSO.
ALUNA: DENISE FRANÇA Nº 13 – 1ª SÉRIE/NOITE

FILME: ESTÔMAGO

FICHA TÉCNICA:
ESTÔMAGO é a história da ascensão e queda de Raimundo Nonato, um cozinheiro com dotes muito especiais. Trata de dois temas universais: a comida e o poder. Mais especificamente, a comida como meio de adquirir poder. E pode ser definido como “uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e culinária.”
Em sua estréia mundial no Festival do Rio 2007, ESTÔMAGO consagrou-se como grande vencedor, tendo recebido quatro prêmios: Melhor filme pelo público, Melhor Diretor e Melhor Ator.
O filme é a adaptação de um conto.
Elenco: João Miguel, Fabíola Nascimento, Babu Santana, Carlo Briani, Zeca Cenovicz, Alexandre Sil, Paulo Miklos, Jean Pierre Noher...
FESTIVAIS: Festival de Rotterdan: Lions Award 2008.
Festival de Berlim: Seleção Oficial.
Festival de Punta del Este.

PRODUÇÃO: Zencrane Filmes foi criada no ano de 2000 por Cláudia da Natividade e Marcos Jorge, como escritório de criação e produtora de filmes.


RESENHA:

Gostei do filme. O Diretor do Filme tem um apreço muito grande pela culinária, e queria mesmo fazer um filme em relação à comida. Um amigo seu enviou-lhe alguns contos a respeito de comida, e ele acobou gostando de um dos contos e fez a adaptação baseada nele.
As cenas do filme contam a história de Nonato, um cozinheiro, e se intercalam, ora as cenas se passam na prisão, ora as cenas contam a história de vida de Nonato, antes da prisão. Nonato aprende a cozinhar num boteco, logo que chega de viagem, as coisas vão se sucedendo, e ele vai aceitando o que a vida lhe oferta. Aprende a cozinhar coxinhas, com o dono do Boteco, e suas coxinhas tem repercussão no bairro todo, fazem sucesso, o que não acontecia anteriormente com o dono do boteco. Descobre que tem um apurado gosto e refino para a cozinha e é descoberto por um cozinheiro local, que tem um Restaurante, o Giovani. Ainda no Boteco, Nonato conhece uma prostituta, e aos poucos se apaixona por ela, mas ela gosta mesmo é de comer... Quando Nonato já está trabalhando no restaurante, não esquece a prostituta e retorna ao lugar onde a conhecer para encontra-la. Mas a prostituta quer saber mesmo é de comer as comidas de Nonato, deliciosas....
As cenas de comida, e preparo, fazem parte de todo o filme, do início ao fim... Principalmente na cadeia, sua fama vai crescendo entre os detentos, por causa dessa sua vocação indiscutível... E isso ajuda-lhe a ter uma posição privilegiada na Penitenciária. As cenas da Penitenciária foram filmadas aqui no Paraná, e com a ajuda de um detento que foi convidado pelo Diretor para dar uma melhor noção do que acontece dentro de uma penitenciária, a conduta e comportamento dos presidiários...
Nonato é um personagem muito particular, ele não sabe o que são “metáforas”, e enquanto o mestre Giovani lhe explicar como encontrar uma boa “peça” de carne, num frigorífico, Nonato vai observando as coisas, e entendendo ao seu modo. A expressão “é como uma bunda de mulher...”, cai nos ouvidos de Nonato como “bunda mesmo”... E isso nos faz acreditar o mundo de Nonato anterior a sua trajetória na cidade grande, possivelmente uma família muito simples, com condições precárias, pouco estudo, e uma ingenuidade bastante visível, contraditória ao mundo onde acaba de ingressar.
Os conflitos no amor, com a prostituta, são evidentes. Podemos observar, que existe nesta relação uma conformidade de “gostos”, o cozinheiro, a comida, e a gustação. O sexo, e a relação com a carne humana, como oferta, a prostituição, e o ato de devorar a carne, porque a própria vida se incumbe de devorar o ser miserável, o homem pelo homem.
Os jogos de poder, desde o início, no Boteco, quando o dono oferece a Nonato, lugar para ficar, desde que limpe tudo e faça tudo, e depois, abusa dele, em razão do lucro que está dando as coxinhas que Nonato faz. E, depois, na Penitenciária, Nonato consegue um lugar de destaque em razão desta sua vocação, o que o ajuda a ficar numa posição mais tranquila... Haja visto que Nonato é um ser frágil, na sua ingenuidade e descaso mesmo... Não sobreviveria assim dentro de uma Penitenciária.
O ESTÔMAGO com a sua boca aberta, conseguiu lugar de destaque, é um filme que remete a vários sentidos, até antropologicamente falando. As cenas são fortes, realistas, densas, e existe um lirismo que vai passeando com as cenas, um “cheiro de alecrim”, que vai sustentando as cenas... nos conduzindo a esta vontade e a este apetite, a este sabor acre da vida.
Como cenário do filme temos os movimentos, as cenas no bar, nas ruas, na Penitenciária... São cenas bastante reais, correspondendo à situação do filme... As cenas da cozinha, a feitura dos alimentos, são bastante interessantes, o close na cebola picada, a técnica para o preparo das comidas... As cenas das prostitutas, as pernas, as bundas, os sapatos e vestimentas, e o contra-ponto, as carnes suspensas no frigorífico...
Enfim, o filme é muito bom, e nos introduz a uma outra realidade, a Cozinha, a Penitenciária, a prostituição, a história do filme consegue compreender e interagir essas três realidades, sem contradizê-las, mas colocando-as numa relação de sentido e significado.
E as reflexões que podemos fazer a partir do significado da carne, da comida, a fomentação e dilaceração humanas, a encruzilhada, o ESTÔMAGO, o trabalho da “bílis”, o pulsar e o triturar, o afago, a deglutição, as tripas da vida em contínuo deslocamento e transfiguração.

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