LUNA PAPA

COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ.
CURSO DE PRODUÇÃO EM ÁUDIO E VÍDEO.
MATÉRIA: ANÁLISE DO DISCURSO FÍLMICO.
PROFESSOR: ANDRÉ DA VEIGA BARROSO
ALUNA: DENISE FRANÇA Nº 13 1ª SÉRIE – TURNO NOITE

FILME: “PAPA LUNA” (1999)

FICHA TÉCNICA:

Diretor: Bakhtyar Khudojnazarov
Escritores: Bakhtyar Khudojnazarov (escritor)
Irakli Kuirikadze
Data de Lançamento: 10 de março, 2000 (Itália)
Gênero: Drama/Comédia
Sinopse: O nascituro de Mamlakat (Kahamatova) é contar a sua história. Ela tem 17 anos, bonita e animada, e sonhando secretamente de se tornar uma atriz.
Prêmios: 9 vitórias e seis nomeações.
Atores: Chulpan Khamatova, Moritz Bleibtreu, Ato Mukhamedshanov, Polina Raykina, Merab Ninidze, Nikolai Fomenko, Lola Mirzorakinova, Sheraly Abdulkaisov, Dinmukhamed Akhimov, Azalbek Nasriev.


RESENHA DO FILME:

O filme se passa numa aldeia, não muito longe de Samarcanda. Aldeia do Tadjiquistão, estado independende situado na Ásia Central Soviética, banhado pelo mar Mediterrâneo. O povo desta região é um misto de árabes e ciganos. Nessa época haviam grupos militarizados e durante, a filmagem, houve uma certa dificuldade em razão da intervenção desses militares...
Lindo filme, realismo fantástico. A personagem central, Mamlakat , uma garota de 17 anos, vive com seu pai Safar, e seu irmão Nasreddin. É órfã de mãe. A garota é muito linda, e sonha em ser uma atriz, conhece tudo sobre os filmes norte-americanos e tem paixão por alguns atores do cinema americano, como por exemplo, Tom Cruise.
Um dia, o pai, juntamente com o irmão, viajam até outra aldeia, para levar coelhos que o pai cria, e nessa viajem, descobre em outra aldeia, um teatro, e com um vestido branco recém ganho do pai, corre até onde o teatro está... Mas infelizmente, chega ao lugar e vê que a peça já acabou.... Fica simplesmente frustrada e triste, porque sua paixão pelo teatro é maior do que si mesma... Anda pelos arredores, para saber onde estão os atores e vai dar numa espécie de floresta, nas circunvizinhanças... enquanto anda, percebe de repente que está sendo acompanhada de mais alguém e pergunta quem está ali, pois não consegue enxergar porque é noite de lua cheia... O sujeito diz a ela que é amigo de Tom Cruise, ela fica muito feliz, e continuam andando, e ela não o vê, mas conversa com ele....
De repente, os dois caem numa espécie de buraco, e vão deslizando pela montanha abaixo, nessa queda ele a violenta, e ela pela primeira vez sente um homem e tem um orgasmo ao final... Encontra-se de manhã caída à beira do mar, e repara que o seu vestido está rasgado e que ela perdeu a virgindade... Encontra-se novamente na aldeia, e corre até sua amiga, diz a ela que teve a experiência com um homem, um ator.... Dois meses depois, descobre-se grávida.... A narrativa do filme, desde o início é feita pelo bebê, Khabidula, que conta a história de Mamlakat, sua mãe...
Mais tarde, conta o que aconteceu ao pai, que fica quase maluco... E ele a pega, mais o irmão, e vão os três à procura do pai da criança, que acreditam ser um ator, mas nada sabem sobre o homem.... E, vão de aldeia e aldeia, em todos os lugares onde o teatro, seja qual for, está se apresentando.... Invadem a peça, no meio da apresentação, capturam o ator, e fazem com que ele diga se conhece ou não, a Mamlakat... Todos eles dizem que não foram o autor do acontecido.
Nesse ínterim, Mamlakat conhece um médico e se apaixona por ele. Da mesma forma, ele fica apaixonado por ela, pela sua inocência, beleza e sensibilidade... Ele é um sujeito sozinho e sonha em ter uma família, o fato dela estar grávida, só acalanta este seu desejo... Ela o apresenta ao pai, dizendo que achou finalmente o pai da criança... A princípio o pai reluta, mas depois, aceita o fato, e tudo está indo a mil maravilhas, prontos para a festa de casamento, felizes.... Infelizmente, tragicamente, no ato da realização do casamento, cai um boi do céu, sobre o pai e sobre seu marido, o boi mata aos dois....
Mamlakat fica com o irmão... E, na aldeia, devido ao preconceito, todos a chamam de prostituta, e cobram a presença de um marido... Quase a linxam... Mas na visita de um aviador a sua hospedaria, Mamlakat descobre que o aviador é o verdadeiro pai da criança que ela carrega no ventre e, se não bastasse, foi ele que empurrou o boi do avião, e que matou aos dois.... Mas, Mamlakat não se apaixona por esse aviador, e tenta assustá-lo com um revólver... ele sai correndo das balas... sobe num armário, e está tão apavorado que cai do armário adormecido pelo susto... Nunca mais acorda... E Mamlakat tem um marido, mas não sabe o que fazer com ele, quer despachá-lo num trem....
A história se segue até o fim, quando Mamlakat e seu irmão fogem do povo que corre atrás dos dois. O irmão, na tentativa de salvar a irmã, liga uma tomada, que está conectada ao teto do edifício, onde existe uma espécie de objeto voador... O teto sai e decola com Mamlakat em cima.... E assim termina o filme...

O filme é simplesmente lindo pela presença da fotogragia inigualável, que nos conduz a uma sensação de transposição, de estar mais além daquilo que está sendo visto. O mar mediterrâneo é visto várias vezes num grande plano aberto, geral, e as cenas são maravilhosas... Dá a impressão de ser até uma montagem, porque a beleza da fotografia é indizível... Tudo isso colabora para o realismo fantástico do filme, que transborda de um sentido além da realidade ordinária...
Eu não vejo no filme, uma falta de sentido, ou um não-senso. Vejo ali a presença de vários signos, símbolos, que nos colocam na presença de um sentido a ser percebido na interligação desses elementos simbólicos... O boi, por exemplo, quando cai do céu, e mata aos dois, não só torna a cena cômica, mas indica um sentido.
Outra cena espetacular, foi o momento em que Mamlakat é seduzida pelo homem na floresta... O momento em que ele a possuí, é muito lindo, os dois estão flutuando, e ela flutua no momento em que atinge o gozo, o escuro, com vacilações da luz que nos fazem ver o corpo de ambos, num ato de amor, é muito belo... Dá um sentido não sexual, mas místico ao ato de amor. Em nenhum momento dá a conotação e violência ou estupro. Muito pelo contrário, faz parte de um sonho de Mamlakat, faz parte do seu universo, e faz parte da inocência, e do momento mágico dela, pessoal. A realização desse momento, leva a todos os demais, no transcurso do filme...
Quando o pai, ela e o irmão, viajam no deserto à procura do homem, pai do seu filho, as cenas são muito engraçadas, quando eles invadem o teatro, a peça, e sequestram o ator, para inquiri-lo sobre o acontecido com Mamlakat. A figura do pai, nesse cenário, parece mais a figura do interditor, do censor, numa peça de teatro.... E é muito engraçado, enquanto o pai e o irmão dormem, na plateia, Mamlakat assiste a peça em prantos, sensibilizada pelos atores e atrizes... O teatro, a catarse de Mamlakat, representa a catarse de todos , nós diariamente nos sentimos cansados da vida real, sem sonhos, sem transgressões, sem aventura, sem esse transbordamento da emoção, e precisamos dessa catarse.
De muitas maneiras, o filme mostra-nos essa transposição do imaginário e do simbólico, a figura do pai, regula esse movimento. Franqueia essa passagem. Assim como o universo onírico, entre a censura e sua transposição, a cadeia dos símbolos, e o seu sentido. Aquilo que se esconde, e aquilo que aparece, de uma forma latente ou manifesta... Outra cena que representa esse objetivo, é a cena onde Mamlakat procura uma bruxa para fazer o aborto, pois não aguenta mais as pessoas da aldeia chamando-a de prostituta... Observamos a cultura do povo, ciganos e arábes, percebemos a crença, o místico, seus mecanismos, a conduta do povo, a superação de suas formas. Mamlakat está além de sua cultura, de sua tradição, respeita, mas o seu universo, o seu modo de ser, sua posição frente à vida consegue superar todas estas barreiras de conduta e de preconceito.
A beleza de Mamlakat transcende toda miséria do lugar e dificuldade. Uma beleza não apenas física, mas uma beleza quanto a sensibilidade, quanto a ingenuidade, quanto ao seu sonho, seu amor incondicional pelo pai e pelo seu irmão, excepcional. O momento em que ela sai de casa com a mala, e vai pegar a balsa. Todos saem e a deixam sozinha... Ela dança em cima da balsa, é muito lindo mesmo.... O feminino, a mulher, o universo feminino, o sentido do sonho, da gravidez, o filho no ventre, a vida mesma, em estado puro, um vir-a-ser. A realidade terrível da rejeição de todos, da exclusão, simplesmente é quebrada, e Mamlakat levanta e dança... Rompe o sentido real, através do imaginário, e cria um outro universo simbólico, além da realidade.
Essa ruptura com a realidade, e sua transposição caracterizam o filme... Todas as cenas são assim. Por isso esse filme se torna belo. A beleza da Arte é isso.

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