A LIBERDADE DERIVA DE UMA COERÊNCIA ENTRE CONDUTAS - DENISE FRANÇA

Curitiba, 24 de abril de 2013.


COMENTÁRIO AO TEXTO DO DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE: "A liberdade deriva de uma coerência entre condutas".

Em primeiro lugar, dizer que o meu tempo tem sido escasso para escrever, e o meu notebook anda com problemas, talvez vírus.

Em segundo lugar, não sei se o Doutor Gikovate faz a leitura de meus comentários, mas de qualquer forma, esses comentários manifestam o respeito por sua obra, e como gosto de escrever, e viver a experiência humana, elaboro aquilo que vejo, constato e percebo, faço também uma leitura da realidade...

A TÃO SONHADA LIBERDADE, já o sabemos, não é a mesma coisa que liberalidade, ou seja, excesso, louqueamento subjetivo e condutas insensatas, nada a ver...

E, sempre partindo da minha própria vida, o IDEALISMO, como o Doutor Gikovate salienta, não revela a verdade e nem expressa a realidade de vida de um sujeito. O Eu-ideal, o Ideal-do-Eu, o Supereu, o Id, eram terrenos trabalhados pelo Doutor Sigmund Freud, já naquela época.... no campo das neuroses, e psicoses.... Mais tarde, descobriu-se o SUPEREU-MATERNO....

O princípio é sempre o mesmo: a imagem de mim, é o outro que me dá, sempre em espelho, o outro, os outros, através da nossa vida, as identificações.... E ao longo da vida, existe não só distância como incapacidade entre aquilo que eu sou hoje, e aquilo que eu "deveria" ser. O Imperativo Categórico, funciona sempre em nossa mente, desde a mais tenra idade, até o presente, no ambiente familiar, no ambiente social, no trabalho....

Quem eu sou??? O que gostaria de ser??? O que faço realmente??? Acontecem coisas malucas a propósito desta IMAGEM IDEAL, e da exigência parental em torno do que gostaríamos que fossemos.... A anorexia por exemplo, a menina, geralmemnte pré-adolescente, magérrima, olha-se no espelho e se sente "gorda", muito gorda... Isso, vai lhe custar a vida. Vai morrer de fome, e isso é uma realidade, proveniente deste entre-choque das imagens, e da exigência....

Um menino sensível , inteligente, criativo, pode ter o seu mundo profundamente abalado e transformado radicalmente, devida à exigência parental em torno da masculinidade, "não quero um filho bicha!".

E por aí afora.... Gostaria de encontrar nos humanos essa tão sonhada liberdade....

Acredito que em torno desta Exigência que não pára de latejar nas tempôras das pessoas, sempre, o tempo todo, talvez, a criatividade, e a maleabilidade, possam nos aproximar de uma tranquilidade maior quanto aquilo que fazemos no nosso dia a dia....

A maleabilidade, acontece justamente mediante um trabalho do pensamento, e das atitudes, para arrancar essa esteira do Ideal e da Identificação, de valores morais falsos e hipócritas que nos acompanham desde crianças....

Poder curtir a vida, se sentar ao lado de alguém, num parque, num bar, na grama, tirar os sapatos, sem pensar no que os outros vão dizer, e conversar, olhando nos olhos, simplesmente curtindo o prazer de estar vivendo aquele momento....

A elocubração das idéias, também, a saturação do pensamento, tão próprias ao ser humano e derivadas desse Ideal inatingível.... Se eu faço isso, porquê faço, para quê faço, como será o futuro em razão disso, e as pessoas ao meu redor..... Elocubração mental que subtrai toda a possibilidade criativa humana....

Eu posso dizer> desde a minha mais tenra idade, eu me lembro que "pensava o mundo, as relações humanas, a amizade, o amor" , e, sofri angústias insuportáveis em razão dessa EXIGÊNCIA parental, e o Ideal, mas também aceitei a minha condição humana, e vivi as minhas angústias, medos , com criatividade e coragem....

Talvez, alguém não consiga superar o medo proveniente de algum fator, mas pode, transformar e usar esse medo de forma criativa....

Outra coisa, muito importante na minha vida, eu não supervalorizo pessoas de condição "superior", seja financeiramente, seja por um status social, seja por uma função pública ou de autoridade... A autoridade, nunca me causou impacto... E digo mais, sem sombra de dúvida, sempre coloquei a autoridade como impossível, e precária, simplesmente em razão da nossa condição humana....

Acontece que as pessoas procuram, através de suas atividades no trabalho, ou na família, ou socialmente, compensar suas inabilidades, e dependências emocionais, usando a função que ocupam, ou o cargo, ou a posição na família enquanto pais, para manipular os outros, "mandar" nos outros.... Determinar a conduta dos outros, o que dá a essas pessoas, uma falsa sensação de autoridade, e de poder.

O PODER É CONTRÁRIO À LIBERDADE.

É assim que observo o funcionamento das condições humanas no dia-a-dia. E percebo que as pessoas mais felizes, tranquilas, são pessoas autênticas, pessoas simples, que não precisam usar nenhum tipo de autoridade, na convivência com os demais seres.... Simplesmente vivem e convivem....

O Ideal então, visto nesta forma da exigência, se transforma nisso, uma autoridade insana e obscena, insensata....

Muitos moralistas, em sua vida íntima, particular, são assim, obscenos, medrosos, cagões....





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