O CORPO-MORTO - DENISE FRANÇA
Curitiba, 20 de março de 2013.
A voz tem a sua contrapartida no silêncio.
A ausência revela todas as características de uma pessoa em determinado espaço de tempo, grupo, preferências, costumes, enfim.
Estive no velório de meu primo, ontem, e percebi muitas coisas, detalhes incríveis, inscrições. O corpo-morto, a letra esquecida.
A suavidade de tudo, uma película que corre, mostra e de repente, apaga. Os olhos se fecham, a respiração acaba, o coração interrompe suas batidas, os impulsos vitais diminuem, ali está o corpo-morto.
Existe um jogo de cartas que em determinado momento, revela o morto. Todas as pessoas que atravessam o velório, falam umas as outras, sobre o morto, denunciam virtudes, riem de algumas manias, choram a ausência, outras ficam impunes no pecado que escondem em relação ao morto, e a noite se consuma.
O morto, inevitavelmente, não é o vivo. O morto tem aí uma razão de ser, aquele que suspende, aquele que cala. É neste sentido que a presença do corpo-morto revela uma parcela de cada um...
A última palavra.
Talvez esta impossibilidade, a última, revele de alguma forma a liberdade do sujeito humano, único.
O que não pode ser violado, o seu segredo, o seu direito, o seu favor, enfim. Aonde não podemos tocar, esta relatividade que caracteriza todo grupo, seja qual for.
Talvez o corpo ainda morno nos conserve em nossa certeza. Mas o corpo-morto abre outra condição. O silêncio verte, a memória pulula neste lugar, lembranças, momentos, situações. Pretendemos a revelação da vida ali.
Vivemos, não vivemos, amamos, não amamos, continuamos como estamos, desagradavelmente percebemos que não temos a posse de nossas vidas, muito menos a da vida dos outros.
Esta ilusão é desfeita com a presença do corpo-morto.
A voz tem a sua contrapartida no silêncio.
A ausência revela todas as características de uma pessoa em determinado espaço de tempo, grupo, preferências, costumes, enfim.
Estive no velório de meu primo, ontem, e percebi muitas coisas, detalhes incríveis, inscrições. O corpo-morto, a letra esquecida.
A suavidade de tudo, uma película que corre, mostra e de repente, apaga. Os olhos se fecham, a respiração acaba, o coração interrompe suas batidas, os impulsos vitais diminuem, ali está o corpo-morto.
Existe um jogo de cartas que em determinado momento, revela o morto. Todas as pessoas que atravessam o velório, falam umas as outras, sobre o morto, denunciam virtudes, riem de algumas manias, choram a ausência, outras ficam impunes no pecado que escondem em relação ao morto, e a noite se consuma.
O morto, inevitavelmente, não é o vivo. O morto tem aí uma razão de ser, aquele que suspende, aquele que cala. É neste sentido que a presença do corpo-morto revela uma parcela de cada um...
A última palavra.
Talvez esta impossibilidade, a última, revele de alguma forma a liberdade do sujeito humano, único.
O que não pode ser violado, o seu segredo, o seu direito, o seu favor, enfim. Aonde não podemos tocar, esta relatividade que caracteriza todo grupo, seja qual for.
Talvez o corpo ainda morno nos conserve em nossa certeza. Mas o corpo-morto abre outra condição. O silêncio verte, a memória pulula neste lugar, lembranças, momentos, situações. Pretendemos a revelação da vida ali.
Vivemos, não vivemos, amamos, não amamos, continuamos como estamos, desagradavelmente percebemos que não temos a posse de nossas vidas, muito menos a da vida dos outros.
Esta ilusão é desfeita com a presença do corpo-morto.
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