FAMÍLIA: MANDOS E DESMANDOS (01) - DENISE FRANÇA

CURITIBA, 28 DE MAIO DE 2013.

COMENTÁRIO AO TEXTO DO DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE.




Sem dúvida alguma, para estarmos aqui neste mundo, nascemos. Existe sim, uma mulher cujo óvulo foi fecundado por um espermatozoide, e desse fenômeno chamado “fecundação” produziu-se um feto humano, e a gestação levada a termo com o nascimento de um bebê.

Porém, contudo, portanto, entretanto, eu aprendi a não mentir em nada quanto a minha vida, e quanto a tudo aquilo que observo, escuto e vejo desta realidade que me cerca. E por isso mesmo, acho necessário dizer: nem todos os bebês nascem, muito são abortados, livremente, ou com a intenção do aborto, mesmo o feto sendo normal...

Mais adendos: a mulher , cujo óvulo foi fertilizado, pode querer engravidar, pode não querer engravidar, pode rejeitar o bebê, pode odiar a criança, e assim por diante. É só pensar a quantidade de crianças vindas ao mundo, e dizer que todas elas foram amadas por uma mãe consciente e absolutamente “santa”, é uma mentira desleal com essas mesmas crianças....

Mais adendos: muitas crianças rejeitadas pelas mães, outras largadas em algum lugar, banheiros públicos, lixos, estações, sei lá, contam com a ajuda de outras pessoas para a sua sobrevivência, orfanatos, abrigos, etc.... E outras ainda, conseguem ser adotadas... por mulheres que não puderam engravidar, e queriam ser mães...

NOTAVELMENTE, me desculpem os moralistas, e muitas mulheres que se sentem ofendidas quando eu digo que ser mãe não é apenas fazer um bebezinho, e colocá-lo no mundo, SER MÃE, independe deste motivo inicial, e NATURAL, ser mãe vai bem além disso.

RESPONSABILIDADE: cuidar de uma vida, não é ENCARGO para qualquer um ou qualquer uma....

Mais adendos: Colocar uma criança no mundo as vezes, ou muitas vezes, não tem a ver com o amor, e o querer um filho, mas apenas o resultado de um controle cultural, de um status que garante a essa mulher uma posição na sociedade, um lugar de “pertença”.

Então, podemos observar que um comentário assim: “ser mãe é ter o dom de dar à vida a um outro ser, é ter a graça e a beatitude que Deus nos concedeu... parala parala parala....”, é incrivelmente FALSO E MENTIROSO...., mas que sustenta bastante a sociedade de consumo.

Existem muitas mulheres no mundo, mães queridas e exemplares, mas existem muito mais mulheres arbitrárias e prepotentes que usam esse lugar de mãe, para exercer uma postura de autoridade produzida única e exclusivamente por elas mesmas, na medida em que um bebê só sobrevive mediante a intervenção de alguém, seja a própria mãe ou outros...

Em razão desta relação de “dependência” pela qual o bebezinho não pode OPTAR, não pode ele mesmo determinar o curso, muitas e muitas mulheres fazem o que querem com estes seres inermes, e entregues a própria sorte....

Existem mulheres que fazem coisas absurdas com uma criança, bebê ou já crescida.... Esta é a realidade.... E não dá para negar, RECHAÇAR, porque há consequências e sequelas disso tudo ao longo dos anos, e à medida que a criança cresce e se torna um outro ser....

Existe a mulher que produz uma criança, mas existe a figura do homem, sem a qual isto não é possível.... Esse espermatozoide pode ser conhecido, ser do homem com o qual esta mulher vive, ou pode ser de um desconhecido, do qual esta mesma mulher não tem ciência. OU, ainda, poderá vir a tê-lo, de alguma forma, com o estudo do DNA....

MAIS ADENDOS SOBRE O ESPERMATOZÓIDE QUE GEROU A CRIANÇA: pode sim, ser o espermatozoide de um homem amado, pelo qual se tem o respeito, advindo de uma relação entre um casal responsável e consciente....

MAIS UMA VEZ, com relação ao homem, sem o qual nada é possível, neste sentido, observamos também as multi possibilidades....

E MAIS UM ADENDO: NADA INDICA QUE ESSE HOMEM , DE ONDE SURGIU O ESPERMATOZOIDE, SEJA UM “PAI”.

A MATERNAGEM É UMA FUNÇAO, ninguém nasce sabendo o que é ser mãe, o que é ser pai. Temos modelos ao longo da vida, pessoas da família e fora da família... Esses modelos, nada INDICA que são perfeitos, que funcionam para o bem... POR UMA SIMPLES RAZÃO: o ser-humano não é perfeito, não está pronto, caminha com o tempo, sofre influência de vários fatores, está sujeito há várias emoções, sentimentos, pensamentos, contraditórios, ou consoantes, sujeitos a vicissitudes ao longo da vida, de forma que não é possível programar o que pode ou não acontecer ao longo de uma vida.....

TODOS ESSES FATORES DEVEM SER LEVADOS EM CONSIDERAÇÃO DESDE O NASCIMENTO DE UMA CRIANÇA, QUE PODE OU NÃO SER FRUTO DE UM CASAL, HOMEM E MULHER, CASADOS OU NÃO, E ASSIM POR DIANTE...

Se o quadro já é assim vasto e complexo, podemos pensar o quanto se torna ainda mais complexo e difícil quando se trata de RECHAÇAR todas essas possibilidades e vicissitudes em prol de uma IMAGEM daquilo que gostaríamos que fosse, mas não é. NÃO É: ISSO É UM FATO!

O IDEAL, e aí eu concordo plenamente com o Doutor GIKOVATE, pode dificultar e tornar tudo mais inacessível na medida em que o sujeito nega a realidade, nega suas próprias emoções, sentimentos, para apresentar uma imagem e usá-la para fortalecer um lugar, uma posição, e contraditória em relação aquilo que de fato acontece e se passa no núcleo ou estrutura familiar....

NEGAR A REALIDADE E OU RECHAÇAR prejudica e interfere não só nas possibilidades de transformação, como também provoca efeitos a longo prazo na vida das pessoas que fazem parte desta estrutura...

GOSTO DE CITAR EXEMPLOS DA MINHA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA DE VIDA, E DAQUILO QUE OBSERVO NA REALIDADE AO MEU REDOR.

Um pequeno e demonstrável exemplo: Eu não tenho filhos. Não sou casada, não tenho marido. No entanto, cuidei de crianças ao longo da minha vida. No dia das Mães, recebi um postal de uma amiga no facebook, onde ela falava sobre a GRAÇA DE DAR À LUZ....

Eu fiz a leitura do postal e o que percebi e venho percebendo ao longo da minha vida em relação a maioria das mulheres, A MEGALOMANIA.. Indissociável da maternidade, da necessidade que ELAS tem de dizer que são detentoras da vida, pela graça do espírito santo, pela dádiva de Deus, ou seja lá por qualquer outra razão.... Eu acredito em Deus, certamente. Não tenho dúvida. Mas eu duvido de tudo isso o que é dito em relação à maternidade.

E aliás, ao fim da leitura deste cartão de minha “amiga” me ocorreu a seguinte ideia: ELA FALAVA TANTO NA LUZ, DAR À LUZ, QUE EU PENSEI MESMO QUE ESTAVA FALANDO DA COPEL...

Uma ou outra mãe PERCEBO, AO CONTRÁRIO DESTE GRANDE GRUPO DE MÃES, a humildade e perseverança em relação aos filhos, verdade e experiência real de AMOR. Sem a necessidade MEGALOMANÍACA DE OSTENTAÇÃO QUE VEM DELAS PARA COM ELAS.... e não de DEUS!

Quanto às crianças, a minha experiência de convivência ao longo dos anos, me fez entender e observar muitas coisas: o medo em relação a essa autoridade da mãe, a IMPOSSIBILIDADE DE DISCUTIR ESSA AUTORIDADE, mesmo sendo ela autoritária e tirânica. A OPRESSÃO EM ACEITAR O QUE É INACEITÁVEL.... Muitas vezes a criança tem que mentir a realidade que vive, por medo do castigo dos pais, pecado moral, ou culpa...Enfim, a criança entra em crise, porque não pode dizer a verdade, não pode dizer aquilo que simplesmente lhe acontece, porque isso é INACEITÁVEL, em se tratando da mãe ou do pai..., “moralmente” inaceitável.

VOLTANDO A ESSE EXEMPLO DO POSTAL DA MINHA AMIGA.... Sei porque ela deixou o postal ali para mim, por uma razão muito simples: para dizer e reforçar esse ARGUMENTO que ao longo da nossa amizade, faz uso como um reforço: VOCÊ NÃO É MÃE E EU SOU.... Coisa banal, e USUAL que todas usam sempre, em relação a outras mulheres, que não tiveram filhos gerados do seu próprio ventre. Como se o fato de não ter filhos fosse considerado por ELAS uma DEFICIÊNCIA que colaborasse no mal-estar desta mulher, ou na INFELICIDADE DELA. NADA INDICA OU COMPROVA ESTE FATO: de que uma mulher que não tem filhos é INFELIZ, OU VALE MENOS QUE UMA MULHER QUE OS TEM.... Na verdade, é a mulher que teve uma criança que provoca nesta outra mulher esta FERIDA....

MAIS UM ADENDO QUANTO A ISSO; eu fui testemunha de muitos depoimentos de mulheres casadas, que gostariam de ter filhos, mas infelizmente, por uma razão de impossibilidade do organismo, não conseguiam engravidar, chegaram à beira da loucura, depressão profunda e isso tudo em razão da pressão da família. Mesmo sabendo que a mulher não pode engravidar, e que isso não é “culpa” dela, a família humilha esta mulher, e a coloca numa condição marginal, onde ela sofre todo tipo de invasão, e assédio moral....

ISSO A MEU VER É UMA LOUCURA.

Existem milhares de crianças que precisam de cuidados, precisam de pais e em razão dessa “loucura”, perdem a possibilidade de serem adotadas por mulheres, homens, ou outros...

Eu gostaria de dizer coisas belíssimas quanto as mães... Mas não sei mentir.... E não posso mentir, porque sou uma mulher, e vivo dia a dia esta condição existencial, em seu sentido particular, diferencial, em seu sentido social, e espiritual.

Existem mulheres maravilhosas que adotam 10 filhos, e produzem transformações singulares e espetaculares na vida destas crianças, isso pra mim é singular e salutar na vida, no mundo, levando em consideração o mundo tal qual se encontra. Isso para mim é mais salutar do que A MEGALOMANIA da mulher que se diz mãe para carregar a coroa da GRAÇA, BEATITUDE, ONIPOTÊNCIA, ETC E TAL, QUE VERDADEIRAMENTE NÃO LHE PERTENCE.



DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE



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