FAMÍLIA (ESTRUTURA): MANDOS E DESMANDOS (03) - DENISE FRANÇA

CURITIBA, 29 DE MAIO DE 2013.

TEXTO COMENTÁRIO EM RELAÇÃO ÀS OBSERVAÇÕES DO DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE.


Estendendo minhas observações anteriores a estas, experiências vividas a partir dos 18 anos de idade, e suas relações com o momento atual de vida.
Por que o Teatro?! A atividade intelectual sempre fez parte da minha rotina habitual, desde os 15 anos de idade. Interesse e curiosidade em saber, entender, compreender, e principalmente, elaborar mentalmente minhas próprias experiências vividas... Li muito e muito mesmo.

O fato de viver não nos dá a consciência efetiva de tudo o que fazemos, e porquê fazemos, pensamentos, emoções, atitudes. Vivi fortes angústias derivadas da família: o autoritarismo do meu pai não me permitia seguir livremente, o que pensava e o que queria e gostava de fazer.... Em casa, era mandar e obedecer, ou calar... 

O querer em contraposição à vontade do meu pai, não poder fazer, não ter liberdade de ir e vir, de ser... A angústia produzida por essa pressão do meio era muito grande.... As minhas amizades eram de conversa, de desabafo, de troca de experiências, e os amigos, muitos deles eram pessoas que pensavam, artistas, professores e outros... Eu desenvolvi desde muito cedo o modo da observação, da leitura do comportamento humano, e tentar sobreviver neste meio opressor era uma questão de justiça. 

Nesse sentido, sempre questionei a autoridade do meu pai e da minha mãe, porque nunca conseguiram me convencer de suas razões. E principalmente porque a autoridade do meu pai era arbitrária, injusta e incoerente. Sempre lutei contra isso, e ainda hoje luto.

Eu não travo mais uma luta interior como quando era jovem, o meu espírito é verdadeiramente livre para pensar e ser. Mas as armadilhas, e o modo ardiloso, a especulação em torno de tudo o que faço e penso, nunca deixaram de existir, isto posto, porque essas pessoas ainda existem...

Muitas foram as direções que tomei, os livros que li, minhas tentativas de encontrar meios para não me sentir assim tão sufocada. A amizade sempre foi um caminho, a amizade verdadeira me proporcionava conhecimento e bem-estar.

Desde cedo também, motivada por amigas que faziam psicoterapia, procurei este conhecimento. E a psicologia era uma matéria favorita, quando entrei na Faculdade, não senti nenhuma dificuldade.

Esses adendos, preâmbulo, para evocar a consciência que temos de nós mesmos, do mundo, dos outros, da realidade que nos cerca... Esta consciência não está dada ao nascermos, e muito menos ao longo da vida. Somos sensíveis a esta consciência ou não somos sensíveis, então procuramos por alguma coisa: um sentido.

A filosofia, psicologia, literatura, não são matérias de pessoas problemáticas, "esquisitas", mas de pessoas que se preocupam em entender, pessoas que observam o mundo, e elaboram suas percepções de vida...
Infelizmente em minha casa, achavam mesmo que eu era uma "louca" porque havia escolhido essa direção...

Hoje, ao conviver com esses estudantes do curso de Teatro, percebo a mesma procura,  a empatia que nos cerca. Olhando para eles, lembro da minha juventude.  Alunos de 20 anos ou mais, sensíveis a tudo isso que acabei de dizer. 

A elaboração mental, racional, a elaboração emocional, a sensibilização do corpo e da mente, do espírito para tudo o que vivemos e nos cerca, resumidamente, faz parte do teatro... E portanto, esteve em mim desde sempre...

A criatividade existencial é isto: a capacidade de recriar a vida, através da produção de novas possibilidades existenciais... viver, sentir, transformar estes sentimentos, renunciar a outros, e seguir honestamente diante de si mesmo e dos demais.

Mas a razão maior de falar sobre o Teatro, é a convivência que estou tendo com homossexuais.  O universo existencial de pessoas que se consideram gays, antes era desconhecida para mim.

Quase todos os meninos do curso são gays. Percebo o quanto de preconceito existente em relação a esse fator,  o quanto de discriminação e de falta de conhecimento a esse respeito, sem relação com a verdade e com a realidade destas pessoas.

Sempre e sempre, a melhor forma de saber sobre uma realidade diversa da nossa, é conviver.  Eu convivo no curso de teatro com pessoas maravilhosas, numa relação humana. Reabasteço minha energia pessoal todos os dias através desta convivência, com alegria, amizade, carinho, muito carinho, e sinceridade...

E com ternura quero agradecer esta convivência carinhosa e afetuosa de pessoas maravilhosas.

A vida sexual deles, não me importa. A escolha sexual desses jovens, não me constrange em nada, muito pelo contrário, me dão liberdade de falar tudo o que penso, vivo, e pratico.

A promiscuidade ligada à homossexualidade, foi algo produzido e desenvolvido arbitrariamente. Nem todos os homossexuais são promiscuos, não existe nenhuma relação de verdade e de fato entre uma coisa e outra.

Voltamos sempre ao tema da sexualidade, e da opressão, re-pressão. Nesta amizade recíproca, verdadeira, percebo muitas coisas. A sexualidade é algo incerto, variável, inconstante, um mundo onde a fantasia é um recurso, e tem respaldo em nossas experiências pessoais, nossa história de vida.

Estou aqui escrevendo e tenho que sair, continuarei mais tarde....

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