A MATERNAGEM E O SUPEREU FEMININO

CURITIBA, 05 DE MAIO DE 2013.

HELVÍDIO DE CASTRO VELLOSO NETTO:

"SEMINÁRIO DE 1993: O SUPEREGO FEMININO"

"O real da anatomia é significante na determinação da escolha sexual.  Bissexualidade, quem a tem propriamente é o significante: Duplo sentido antitético das palavras ("A interpretação dos sonhos" - Freud).
Desejo demarcar o terrorífico da hiância, do Furo, o Feminino, que vai impelir ao movimento de fuga da vivência do Outro, do Grande Outro, em direção à Beatitude falicizada da  representação de algo, de algum objeto, de alguma montagem."

"A Beatitude sem medida é o gozo oriundo do gozo do Outro quando o Falo não se torna Falo, quando ele não se torna um elemento terceiro, e ele é simplesmente um brinquedinho entre ele, o bebê, e sua mãe."

"A Beatitude sem medida é o gozo oriundo do gozo do Outro, num corpo fantasmatizado da mãe arcaica, cujo o gozo só adquire medida pelo falo, função fálica. Sem medida é esse universo, que é o todo dessa relação originária. O Outro é essa mãe, que esses fenômenos, essas vivências, nesse jogo de completude que sobre ele pesa."

"Assim é o Supereu Materno, essa imperatividade do goza, é uma função não regulada que não conhece limite, e o gozo absoluto, afânise radical do sujeito, e por isso a referência ao desejo ser extremamente civilizado se comparado com o gozo."

"A inserção do sujeito na sua vida, você vai poder falar que o corpo, a vida, a morte, vai mudando o nível de estimulação desse sujeito. A esse nível que eu estou falando, primitivo,  nós vamos entender aí um corpo que é o real do buraco, o real aí se torna o outro, como esse buraco, essa hiância ao passo que o corpo sendo vivenciado, representado pelo sujeito adquire o lugar de imaginário, mas é o corpo real do sujeito, só que o real é o buraco da hiância, sob a representação que o sujeito vai fazer do que ele vivencia."

"Assim o Supereu materno, essa imperativa do goza é uma pulsão não regulada que não conhece limites, gozo absoluto. Afânise radical do sujeito, por isso eu me referi ao desejo sendo extremamente civilizado se comparado ao gozo. Eu demarquei também que a vivência superegóica radical, ficará para sempre não coordenada ao significante,  essa vivência superegóica radical não coordenada não quer dizer que não possa encontrar no significante sustentação, para o loqueamento, não quer dizer que o significante não vai entrar aí como significante - substância gozante - não coordenada ao significante, quer dizer que vai funcionar absolutamente sem um distanciamento possível daquilo que nós vimos ontem como subjetividade, um sujeito que possa fazer isso..., é esse significante trabalhando ditatorial, gozozamente naquela, na forma do isso, produzindo seus efeitos sem que haja uma condição de uma certa amarração. Dá para entender que na neurose não é o que se passa, na neurose já existem os cinturóes, o cara comete o lapso, e isso é por causa disso. A ficção da análise é dizer que realmente ele pode até saber. Espaço ficcional, e não estou falando do delírio, que não é a ficção futurística. É o primeiro artífício, por exemplo, os pais com a vinda de um novo rebento supõe que dali vai nascer um falante. Nao há nada ali que garante que aquilo ali não vai se tornar um autista, mas é um artifício que existe na estrutura, o artifício é espiritual. Diferente de um Júlio Verne, o fato é que  produza hoje idealisticamente no campo das ideias,  produzir coisas que ainda somos incapazes de realizar - isto é ficção - que se chame científica não deixa por menos que esse corpo de ideias, esse conjunto se situe aí no lugar do inominável..."

"O Deus de Shereber (caso Shereber - Sigmund Freud), é um infrator no que se refere à ordem do mundo, e não pensem que isso é uma sacanagem com Deus, é mais um artifício, é louco mas não é burro, artifício para degradar essa imagem. O neurótico tem uma força para manter a mãe, no psicótico nós já encontramos no cerne da doença, o cerne de distituição dessa figura."

"O Supereu das mulheres é diferente do Supereu dos homens. Freud questionou se as mulheres tem supereu. O Lacan denunciou que o tema o Supereu feminino é uma máscara, se falava muito, elas e eles, e da-lhe congresso, máscara que recobre a questão essencial do gozo feminino; o que chamo de gozo feminino é o gozo não freado, não relativizado pelo falo, é o gozo louco. O gozo fálico que não tem nada de feminino é absolutamente histérico, que já é um gozo localizado, do qual a mulher também participa e a histérica pretende tornar seu ser absoluto. "

"GOZO DA MÃE = GOZO FEMININO. O gozo feminino, enquanto não situado pelo falo, é o gozo que tem de alguma forma, se tornar cativo da ordem da palavra, num trabalho de civilizar a loucura, porque terá as mulheres de seu estado: de estarem perdidas, sem se mascararem de homens nas formas mais variadas que veremos. Civilizar a loucura, é transformar a hiância de figura obcena e feroz, hiância no imaginário, para hiância no simbólico. Separarmos para pensar um pouco, no que já falamos, podemos entender que há uma revirada na clínica: se entendermos o supereu não como uma função de inibição, de proibição, mas como uma função imperativa de exortação, de empurramento, num determinado sentido."

"Nesse sentido, tantos problemas causam aos psicanalistas, machos e fêmeas, entender o supereu feminino. Em relação ao supereu feminino, não podemos dizer que a mulher o tenha, é que em razão de suas funções estruturais, a mulher é o supereu. Ela não tem o supereu, ela é o supereu."

"Por isso só com um homem é possivel a construção de uma mulher. Entanto isso, a mulher continua sendo o sinônimo de supereu."

"Em razão disso, é muito mais fácil eu ter uma crença qualquer, ideologias políticas, é muito mais fácil sustentar imperativo kanteano do que sustentar imperativo do gozo."

"O feminino é estrutural, o gozo é inerente - é uma instância. Instância é isso, é essa pressão, essa manifestação agora que se passa sem a radicalidade da fobia, permite essa usufruição."

"Vínhamos então, da medianação do Supereu e a Mulher. Falar de supereu, lembrando a Banda de Moebius, e falar de mulher, é somente uma continuidade. Tendo como conclusão do último sábado, que a mulher não tem supereu, por algo muito simples: ELA É O SUPEREU."

"Agora, na continuidade do trabalho, se impõe que nos encaminhemos rigorosamente na trilha da demonstração, e para tanto, vamos mais uma vez ao tear, pois que o cerco deve ser percorrido várias vezes e a Psicanálise nos ensina que as águas passadas movem o moinho."

"Botem na cabeça que isto é uma fórmula: não poderemos jamais falar de clínica, da observação dos ditos casos clínicos, que nos sitiam, nos assolam, sem estabelecermos uma leitura rigorosa desses elementos que eu venho, gradual mas progressivamente apresentando."

"O cerco deve ser percorrido várias vezes, nós já trabalhamos aqui. Só que o Lacan, à pág. 258 diz: "não há senão uma psicanálise, a psicanálise didática - o que quer dizer uma psicanálise que tenha fechado esse cerco até seu termo. O cerco deve ser percorrido várias vezes. Não há com efeito nenhuma maneira de dar conta do termo DURCHARBEITEN, da necessidade de elaboração, se não é pra conceber como o cerco deve ser percorrido mais de uma vez. Não tratarei disto aqui, porque isto introduz novas dificuldades..."
"Só que eu estou fazendo diferente. Este artifício epostemológico que ele está colocando em relação a um paciente em análise, eu estou realizando a aplicação dessa análise didática aos próprios conceitos que nós vamos trabalhar."
"Perguntem! Quero que fique bem entendido! Se o Lacan disse... 'Meus alunos, se eles soubessem por onde os conduzo', eu não tenho nada com ele neste aspecto. Eu quero que fique muito claro por onde os conduzo, e vai ficando muito claro o caminho que vou abrindo. FICA QUEM QUER! ESTÁ CLARA A MINHA ÉTICA?"
"Não há senão uma Psicanálise, uma Psicanálise como um corpo conceitual. Nada de MariasPsicanálises! Isso é delírio! Não há senão uma Psicanálise em relação ao sujeito. Não há senão uma Psicanálise em relação a esses conceitos, a estas formulações, que dirão da verdade. Qualquer coisa que se afaste disso, ou estão no campo da Psicose, da Perversão ou da Neurose, e não venham me dizer o contrário. Eu quero que vocês saibam para onde eu os conduzo. Esse é o caminho que eu trilho!"

"Psicanálise que tenha fechado o cerco até seu termo..." Então não há possibilidade de se falar aqui, ao nível do que seria o corpo conceitual da Psicanálise, a não ser percorrendo o cerco várias vezes, fechando-o. Um dos cercos nós estamos fechando agora... Estamos retornando ao feminino. Retornando às origens. Que vai ser noutro nível qualitativo, não tenho dúvidas que será!"

"Alguns por impossibilidade estrutural. Outros já num campo que eu deixei bem dito aqui, na letra de Lacan, por sotaque de perversão. Sabemos de há muito, que a identificação primária, se define em relação à mãe, sendo que a mãe remete à IMEDIATEZ, ao contrário do pai, que remete à MEDIATEZ, distância! Possibilidade de cortes e metáforas."

"Ora, essa identificação primeira ligada à mãe, se organiza em função de uma relação que se estabelece, de forma a mais estreita possível, que é a relação de maternidade, lugar por excelência, de organização e funcional de manifestação da CORRENTE PERVERSA DOS DESEJOS."
"Se funda num elemento básico que é o de fazer FUSÃO, CON-FUSÃO, entre o significante e o objeto. Fazer CON-FUSÃO entre o que é idéia, o que é substrato ideológico, e o que é objeto."

"Por exemplo: Uma mãe que perverteu tanto o seu filho, a ponto de que ele não conseguisse extrair bem estar da vivência do nível simbólico que a vida propicia, por tal objeto perverso ele foi feito, ele não conseguirá também extrair satisfação e bem-estar que não seja atra´ves dos objetos ontificados.... ENTIDADES."

"Essaç relação da mãe com o filho, a mais direta de todas as relações possíveis, é com efeito a que mais letimamente pode reivindicar o título de NATURAL. Termo que Lacan continua utilizando para significar o quê?"
"NATURAL, entendendo aqui, como predominantemente movida a uma tendência REAL/IMAGINÁRIA de manter tal filho na posição natural de um objeto feito de carne, e atravessado por necessidade."

"Foi isso que levou Lacan, inevitavelmente ... SEMINÁRIO 11: "O inconsciente Freudiano e o nosso", a levar o conceito do inconsciente do IMAGINÁRIO ao SIMBÓLICO, e terminar, finalmente, como sendo REAL."
"Dizer com Lacan que o inconsciente é REAL, significa dizer o inconsciente está fundado, fundamentado...".
"O inconsciente termina como REAL, foi o último lugar do inconsciente, porque é esse das vivências, da origem, do contato a esse nível de necessidade, onde a necessidade se torna, porque é ela o elemento de vida e morte, se torna a arma mais poderosa que o outro utiliza para ingressar, fazer ingressar o NOVO SER, na dela."

"Exemplo, uma mãe que pega um filho, vai estabelecer com ele um trabalho que é o seguinte: APRENDA A DEMANDAR-ME. ME TORNE NECESSÁRIA À VOCÊ, SOB PENA DE QUE, SE NÃO TE MANIFESTARES NESSA LINHA, ESTÁS FADADO À MORTE."
"Mas isso é lido como amor. Isso é o ódio mais radical. Esse é o Discurso do MESTRE."

"Onde a subjetividade desta dita mãe, utiliza desta Mestria, produzindo sobre o outro o que será um saber, para que ele ocupe esse lugar de, além de ser um demandante, ainda seja um objeto. Ela exige, através desse movimento perverso, que ele também seja um perverso, na origem: seja do campo do saber ou do campo do objeto: ISSO É CHAMADO AMOR MATERNO."

"E aqui está o Discurso do Inconsciente. Por isso o Discurso do Mestre é o Discurso do Inconsciente: porque é o primeiro Discurso que vai configurar. Onde se estrutura, se organiza de saída, no OUTRO, a unidade de duas ordens diferentes."

"Ele está falando da Pulsão em Freud, e do Desejo do psicanalista. Tal é o relevo que o moralista teria podido observar nele, Lacan, se nosso tempo não estivesse tão prodigiosamente atormentado de exigências edílicas. Isso é o que quer dizer a referência constante em Freud ao WUNSCH-GEDANKEN, aos pensamentos de anseios, de votos..."
"Porque o que esta mãe exige do outro... ao projetar sobre o seu Supereu, que é a bocarra de mamãe.... exige o retorno: receber sua própria mensagem de forma invertida. Isso Lacan coloca na estrutura do Inconsciente. Só que diz o Lacan: É A ONIPOTÊNCIA DO PENSAMENTO".

"É TROCADO, A ONIPOTÊNCIA É PASSADA PARA CÁ, S²/a, TANTO QUE ELE COMEÇA A ACREDITAR QUE ELA É ONIPOTENTE!"

"Não é a megalomania que se denuncia." Isso é desimportante. E pergunto a vocês se não é a linha que tenho trazido aqui, com a frase que o Lacan pronuncia depois:
"O que se denuncia é esse movimento de "conciliação dos contrários". Não há movimento perverso maior."

"Sim! Conciliação; DIZER que é a mesma coisa, o campo do significante e campo do objeto. Então é claro que o cara tem que sair, como ele diz no Seminário Ética, procurando os bens do mundo, que o farão feliz."
"Faz isso porque foi enlouquecendo pela louca, porque a louca acreditou que era aquele bolo de carne que ela pariu que era o objeto."

"Objeto feito de carne e atravessado por necessidade. É o nível de relação em que o AMOR estára mais absolutamente e naturalmente garantido, entre a necessidade e A MORTE."

"Sendo que para fundá-lo e mantê-lo, não fal falta qualquer elemento pertencente ao registro da lei."

"É a relação que vai ser sustentada em uma inércia que se oporá fundamentalmente ao que ex-siste. E o que ex-siste, eu já lhes demonstrei. É O SIMBÓLICO. "

"Que seja outro, mesmo que em forma de um alimento mais sólido, por exemplo, e daí temos toda uma preparação, toda uma graduação, com pós-graduação e todos os títulos acadêmicos que quiserem aqui depositar, para essa vivência de retorno às relações com as mãezinhas da vida... de todas as formas, aspectos e sob os mais variadso DISFARCES, que vão compor a nossa clínica."

EXEMPLO:

"Uma mulher quando me procura, ou vai comigo falar de análise, ou vai trepar.

TREPAR ---> VERDADEIRAMENTE (rompendo isso que eu denunciei aqui: "é o nivel de relação em que amor estrará mais absolutamente e naturalmente garantido, em função da necessidade e morte, sendo que para fundá-lo e mantê-lo não faz falta de qualquer elemento pertencente ao registro da LEI.).

TREPAR VERDADEIRAMENTE ---> refiro-me ao que Lacan trabalhou na última página do Seminário XI:  "O amor, cujo rebaixamente pareceu aos olhos de alguns que nós havíamos procedido, só se pode colocar nesse mais além, onde primeiro ele renuncia a seu objeto."

"O amor, cujo rebaixamente pareceu aos olhos de alguns que nós havíamos procedido, só se pode colocar nesse mais além, onde primeiro ele renuncia a seu objeto."

"Onde faz a diferença do que eu dizia antes entre o significante, o que é do simbólico e o que é do campo do objeto."

"Também está aí o que nos permite compreender que qualquer abrigo onde pudesse instituir-se uma relação vi´´avel, temperada, de um sexo ao outro, necessita a intervenção, é o que ensina a PSICANÁLISE, desse médium que é a METÁFORA PATERNA".



HELVÍDIO DE CASTRO VELLOSO NETTO

COLÉGIO FREUDIANO DE CURITIBA




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