A TRAIÇÃO - DENISE FRANÇA

Curitiba, 22 de novembro de 2012.

COMENTÁRIO A RESPEITO DE UM TEXTO DO DOUTOR GIKOVATE, SOBRE A TRAIÇÃO....

A TRAIÇÃO se caracteriza pela violação de um pacto de confiança, honestidade, segredo. E principalmente,  quebrado  sem ser revelado. Descobrimos se a pessoa nos conta, ou por terceiros. Nos sentimos decepcionados, frustrados...

Mas a meu ver, a traição é sempre consigo mesmo. Não podemos mentir sobre as coisas que sentimos. Não podemos ocultar nossas intenções do nosso ser. 

A nossa vida não é programável... Gostaríamos de levar a termo aquilo que queremos, pensamos, nossos objetivos. Muitas coisas acontecem, outras não.

O DOUTOR LACAN, no Seminário sobre a Carta Roubada, “La lettre volée” fazendo uma leitura a partir do texto de Edgar Alan Poe, observa a emergência daquilo que nos é revelado.  E Lacan faz essa pontuação: "A carta sempre chega a seu destino...".

"Do seu título original em inglês dado por Poe ao da sua tradução para o francês – “La lettre volée” – podemos ler: carta posta de lado, carta virada (renversée) e, também, desvi[r]ada.  Este sujeito – a carta desviada –, ou mais especificamente, seus trajetos, seus rastros, suas trilhas e desvios e deslocamentos é que determinam os papéis das personagens ao longo do conto, bem como de suas metamorfoses. Estas equivalem a retornos do recalcado. As paragens e percursos da carta servem para indicar-nos posições subjetivas." (Geraldo Majela Martins) 

Eu parto deste princípio: o maior segredo que uma "carta" pode comportar é a "espera". O tempo de espera,  o desespero, o tempo onde os "anagramas" estão  sendo decifrados pelo interlocutor. E nesse sentido, aquilo que enviamos, não nos pertence mais. Se é que algum dia nos pertenceu...

A assimilação, a compreensão, a percepção... Repassamos esse "anagrama" (ROMA - AMOR) para outras pessoas, outros sujeitos, e acontecem uma série de coisas... OU seja,  nós nos tornamos vários na infinita cadeia de identificações ao longo da vida, perpetuidade... E ao mesmo tempo não desejamos isso....

Em que sentido, com que espécie de vetor colocaríamos a "traição" aqui?! Ilusão, desgraça, degradação,
vilipêndio à felicidade, ao lugar como tal...  De repente, não mais que de repente, a imagem sonhada, a "fotografia" do amado se encerra em outro tempo, outro espaço, acompanhada de outro sonho... 

“O primeiro é o de um olhar que nada vê: é o Rei, é a polícia. O segundo, o de um olhar que vê que o primeiro nada vê e se engana por ver encoberto o que ele oculta: é a Rainha, e depois o ministro. O terceiro é o que vê, desses dois olhares, que eles deixam a descoberto o que é para esconder, para que disso se apodere quem quiser: é o ministro e, por fim, Dupin” (LACAN. Escritos, p. 17). 

POR TRÁS DE TODO AMOR.... SEMPRE HÁ UM SIGNO DE PERMISSÃO. UM PASSE.

Quando descobrimos que o outro tem outra pessoa, imediatamente a imagem se despedaça, feito um espelho quebrado. Por quê?! Porque necessariamente é a nossa imagem ideal que nos foge. É o curto-circuito, realidade-sonho.

O incrível, na realidade nada mudou: continuamos sendo nós mesmos em nossas dificuldades, nossas idades... O outro por sua vez, também.

Diante de tudo isso, penso que obturamos ou solapamos algo de nós mesmos, mediante tamanha decepção ou sofrimento.  JUSTA OU INJUSTAMENTE.

Não nos ocorre que o amor não acabou?! Porquê o sentimento amor acabaria em razão do outro não nos querer mais ou não nos reconhecer mais, desfocando seu centro de ação para outra direção?!

O AMOR não seria mais amor se permitíssemos essa passagem, concedêssemos esse "passe" ao outro?! Não seria justamente nesse "tempo" reconhecer que estamos amarrados apenas a uma série de identidades,  ou fragmentos de possíveis, não sendo em cada um senão algo "parecido", muito próximo, algo crível de uma produção onde conhecemos o destino?!

Eu penso que é só no depois, e no aproveitamento deste tempo, separação, amar melhor. OU RECONHECER A POSSIBILIDADE DE PRODUZIR ALGO MELHOR....






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