A INCOMPLETUDE HUMANA - DENISE FRANÇA

Curitiba, 01 de novembro de 2012.

COMENTANDO O TEXTO DO DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE, SOBRE A INCOMPLETUDE DO HOMEM...

Estamos chegando ao NATAL, outra vez... Ontem fui até o centro de Curitiba, e percebi que as lojas já começaram com os enfeites de natal, e o número de pessoas aumentou... Fui andando pelas ruas, e percebi um mendigo ainda dormindo no chão, e ao seu lado um cachorro ensonado... Percebi estas criaturas na contramão do consumo.... 

Voltei para casa, eu estava triste... Essa tristeza vez ou outra me pega, não é uma tristeza derivada da minha pessoa, é uma tristeza das coisas que vejo...  Quando frequento as aulas de teatro no CEP, volto para casa alegre, quase sempre sorrindo....  Aqueles meninos e meninas me dão alegria, são pessoas sensíveis, com sonhos, esperanças, começando a ir de encontro ao seu destino, pensam, tem um pensamento crítico, fazem uma leitura da realidade, se preocupam uns com os outros.... Procuram ser honestos consigo mesmos, e esse caminho tende a ir em frente... Isso muito me alegra mesmo, e principalmente, aceitam a minha presença, gostam de mim...

Na minha família  meu pai e minha mãe não saem daquele centro especular...., queixas, sofrimento, dinheiro....  Assistem televisão, passam a maior parte do tempo falando das pessoas, fazendo fofoca, não são sensíveis, nem carinhosos, curtem a dor, preferem os problemas, e não são sinceros.... Simplesmente não me conhecem, fabricaram uma Denise que não existe, e com a qual travam lutas, guerras,  sou o motivo do sofrimento deles, e da desgraça em geral.... Essa imagem foi criada pelo meu pai  já há muito tempo, imagem que ele repassa sistematicamente e incansavelmente as demais pessoas da família e fora da família... Imagem que ele usa para suprir sua demanda interior, de frustração, insatisfação, e autoritarismo radical.... 

FELIZMENTE SOU O CONTRÁRIO DISSO TUDO. (Por um bom tempo em minha vida tentei ser o que meu pai dizia... Tentei acreditar que era o que ele dizia, tentativa que quase me levou a loucura... Mas, não existe maldade dentro de mim, e alguém que não é ruim não pode praticar o mal... Eu sou o que sou...). 

Estranha para a família, fora do ninho desde cedo. Isso muito me entristece, por demais, mas levo os meus compromissos até o fim. Sou eu que cuido da casa, que vem segurando a barra dos outros, em todos os sentidos.... Sei porque faço isso, não me deixo entregar a esta ideia criada por eles, de que sou problema, de que não presto... Estão cristalizados nesta forma, e não conseguem sair disso. E eu que estou de fora, sou o paredão desta projeção especular... Isso não é um privilégio meu,  porque provavelmente acontecesse assim em todas as famílias...

Frequento uma academia, e gosto de exercícios, atividade física, lá as pessoas também são queridas, amigas, pessoas da terceira idade, percebo outra realidade, e me deixa feliz saber que estas pessoas estão procurando uma qualidade de vida melhor.... Também saio de lá me sentindo bem...

A companhia das criaturas de focinho e a natureza em geral, me dão grande contentamento, paz e tranquilidade. São criaturas afetivas, sensíveis, inteligentes e sociáveis.... Na companhia destas criaturas realimento o meu vigor espiritual, me coloco outra vez em sintonia. Gosto da quietude, do silêncio, vejo e percebo que sou uma pessoa legal, estou bem comigo mesma...

Outro lugar que frequento, a igreja dos Freis Capuchinhos, ao lado de minha casa.... Existem amigos mais carentes que me fazem ir até a igreja, saber como estão... Converso com essas pessoas, troco idéias, brinco, sempre com senso de humor, escutando e apaziguando a irritabilidade, o desconforto, descentrando a dor e tristeza quando a realidade é muito cruel.... Amo muito os Freis Capuchinhos, e a recíproca é verdadeira. São pessoas habilitadas para aquilo que fazem, não são religiosos radicais, tem uma espiritualidade que caminha com a realidade do mundo, tentam adaptar esta igreja a esta realidade. Escuto as palavras deles, nos sermões, conversas, e da mesma forma me sinto tranquila, recupero a minha alegria, com estes freis capuchinhos.... E ademais, percebo coisas inusitadas e divertidíssimas vindo da parte deles... 
Muitas vezes já me deu ataque de riso, ouvindo estes capuchinhos.... hahahaha.... O que eu sinto é uma sensação próspera de muita alegria mesmo, na presença deles...

Quanto à comunidade, hoje já não me olham da mesma forma como antes... Existe respeito a minha pessoa...  Mas a hipocrisia continua na conduta  e vida de tantos, por aqui....

Ando sempre pelas ruas, conhecendo os lugares, o tipo das pessoas, conversando, escutando, ouço muito o rádio, tenho profundo respeito pelas pessoas do povo, que são aquelas que mais gosto de conviver... 

A minha vida espiritual é cultivada pela leitura, convivência diária com o mundo, com a diversidade de mundos, a música é fundamental na minha vida, a criatividade,  a produção de coisas novas.... 

A sensação que tenho é de um extrato antigo para um extrato novo, é isso que percebo. Mesmo as pessoas que cultivam a hipocrisia, ou seja, a falsidade e a aparência, mesmo essas pessoas se deparam com a realidade de sua ignorância, de sua prepotência.... do seu profundo egoísmo. São pessoas infelizes.

Todos de um modo geral, naquilo que escuto do que dizem, e naquilo que a conduta deles mostra, revela,  a tentativa constante de assimilar outra coisa, e de responder a essa demanda, a solidão, a incompletude humana.... 

Percebo que a maioria das pessoa insatisfeitas consigo mesmas, depositam em outras pessoas a sua insatisfação, são pessoas consumistas, compensam esta insatisfação comprando coisas, para manter um status e uma aparência de que tem alguma coisa de sobrevalor sobre as demais pessoas... Tem necessidade de subjugar outras pessoas, sempre seguindo um critério de superioridade e inferioridade. Não aceitam diferenças, vivem em razão de preconceitos, não procuram descobrir e perceber as coisas em sua complexidade e particularidade.

Existem pessoas intermediárias, que percebem a realidade, pensam, e ficam no meio termo, são capazes de mudança, mas são sugestionáveis, e inseguras... Padecem por falta de ousadia... Aceitam a realidade precária, por medo de perder a estabilidade aparente... E aceitam aquilo que é conveniente aceitar...

E existem pessoas raras, diferentes, ousadas, profundamente honestas consigo mesmo e com as demais pessoas, geralmente mais sozinhas, não se conformam com a realidade, criativas, sobrevivem a tudo e a qualquer revolução ou tempestade... Estão além de seu tempo, e se ultrapassaram... São substanciais...

Eu sou assim...

Para essas pessoas a incompletude humana se encontra num nível secundário, porque não trava o curso da vida, a vida sendo mais importante do que as comiserações humanas. Eu diria que não sucumbem a este ruído, ao murmúrio dos pensamentos, à infinitude das queixas... Não sucumbem ao prazer imediato e á aparência das coisas...

Sensibilidade, intuição, inteligência e criatividade... Gostam de aprender, aceitam as diferenças, vão de encontro ao inusitado, curtem a vida, não se deixam abater. A alegria de viver é real e são pessoas autênticas.  Geralmente são pessoas simples, e o seu conhecimento é real, e por isso mesmo são humildes, não se colocam superiores aos outros... Sabem e não tem carência de títulos... São muito mal compreendidas em seu tempo, chamadas de loucas, ou outros adjetivos...









Essas pessoas respeitam profundamente todas as manifestações humanas, cultura, raça, crenças, a arte, a ciência, os cultos, e acreditam que a angústia, a ansiedade, a desesperança, a dor, o sofrimento, existem, existem e colaboram para o sentido mais criativo da ALMA HUMANA... SÃO AMIGOS DA HUMANIDADE.




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