A TEMPO

A TEMPO

...AMADO-AMIGO,
a tempo de dizer outras coisas, se vê que as vezes acreditamos e desacreditamos depois. Ando pelas ruas de Curitiba, assim sempre, longas caminhadas, observando o rosto, a expresssão quase a mesma, a pressa, o consumo, a ignorância, a miséria no ralo, no meio-fio um pedaço de alguma coisa.
... o pára-brisa dos carros, o pára-brisa das caras anônimas e tão conhecidas, tão sem inocência, tão exteriores e superficiais como uma mentira. Sem ternura, me parece o mundo, eu acredito e desacredito.
... ando pelas ruas, meu desassossêgo, minha procura, ah eu penso, se por acaso deparasse com os teus olhos na dobra de uma esquina, seria feliz. Seria feliz sim, te encontrar. O ar e a quentura do espírito, me ajudam a acalmar tudo aquilo que vejo. O homem se consumindo, sumido, ido, sem destino. Imediato numa proporção quase inumana.
... amado-amigo, olha só o resto de muitos, as propagandas dos candidatos pelo chão, parece que nem foram, sequer estiveram. Eleitos pelo voto do povo, começarão sentados e terminarão sentados, inércia própria do político, cadeiras que se arrastam para quase nada.
... procuro então enxergar sobre as árvores, ver o céu, achar um indício daquilo que acredito sobre este território febril das máscaras.
... acredito por instantes e desacredito depois. É a urgência de encontrar alguma ternura nisso tudo. Gente do povo, cachorro de rua, sorriso sem dentes, vendedor de pipocas, talvez. Compro um pedaço de doce de amendoin, adoço minha boca, beijar minha saliva, o gosto de saudade. O gosto que me falta e eu acredito.
... voltarei sempre a encontrar. O meu modo de ver, real encontro, eu sei. Ultrapasso o meu desânimo imediato, torno a encostar meu coração no outro, e as paredes se desfazem. Toco com a palma da mão o asfalto, recomeço em outro dia.
... as esquinas, o avesso das horas, a tempo de dizer como é necessário o amor, amado-amigo.

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