PORQUE OS PROCESSOS SE PARECEM COM KAFKA - DENISE FRANÇA

PORQUE OS PROCESSOS SE PARECEM COM KAFKA

Curitiba, 29 de maio de 2012.

Os processos se parecem com kafka, no que diz respeito a sua impossibilidade.  Um dia, sem saber, a gente acaba.
Agora, todos os processos estão sendo digitalizados. O bolor das páginas, o resíduo do tempo, ficará esquecido, outros diretórios, e outras repartições. Em tempo real, nos alcançará aquela barata inominável de Clarice Lispector.
As palavras maleáveis e usadas no dia-a-dia, estão sendo processadas.  De que forma o nosso terror se aglomera, e cria  uma malha fina e sinistra de redes.

O vírus aprovará os processos, apagará o tempo, numa mesquinha forma.

À mercê do outro, nas dobras do cotidiano, moramos. Nos intervalos de hipótese, configuramos um tempo outro, um novo tempo, e divulgamos  uma imagem, apenas uma imagem sem a substância do corpo, da sensação, do sentimento, da emoção, o sangue, e as tripas que comprovam a possiibilidade da morte.
O infinito, a rosa aguardando ao vento, as claves das dunas no deserto, o movimento e a transformação dos ruídos vividos.
Os processos, sempre os processos, inspecionados na hora onde o homem não é homem, onde o homem é deixado ao canto, onde o homem é absorvido no silêncio de si mesmo, para nenhum lugar, nesta hora, os processos são selecionados, contados, gavetados, aludidos.
E, absolutamente, nenhuma presença.
ATURDIDO, ATURDITO.

Excentricidade de um furo, colapso do morto, prostituição do sagrado, justiça da bezerra morta.
JUIZ que saiu de casa, colocou sua toga, revogou a lei, bateu e setenciou e concluiu.
Retirou sua toga, estacionou o carro, e ela abriu suas pernas, e ele sentiu o gosto da saliva e conseguiu no fato instantâneo da vontade, sua falta humana de verdade.
Essa foto, diafragma e luz de seus olhos dentro dos peitos dela, era o princípio de algo, possivelmente, a primeira página de um ato,  alforria de sua idade.

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