RUA DESCALÇA - DENISE FRANÇA

CURITIBA, 28 DE FEVEREIRO DE 2012.


RUA DESCALÇA

OBS: DESCULPEM, ESTOU SEM INTERNET.... (A NET ESTAVA ME ROUBANDO....).



MARTINS DAGOSTIM, UM ESCRITOR CURITIBANO, ESCREVEU "CIDADE DESCALÇA".



Hoje eu o encontrei no CEFET, PARA SEMPRE. Estive lá para a retirada de um documento, e ao sair, dou de cara com ele. Isto é incrível!!!, exatamente igualzinho a 25 anos atrás... Este professor de português, literatura, marcou nossas vidas.
Enquanto esperava na fila, conversando com outro jovem que falava do professor FERNANDO BINI. Nossa, isto é incrível!!! Esse jovem disse que gostaria de ter nascido naquela época, para aproveitar esta convivência que nós todos tivemos, a oportunidade de experimentar, e viver.
E, realmente, nada nos dias atuais é igual aquela época: as conversas ao longo das aulas, o conteúdo dessas conversas com os professores que se tornaram nossos amigos, e em razão deles, nós aprendíamos um conhecimento humano, revolucionário, transformador, crítico, criativo, produtivo. Esse "desejo de saber" era imperativo e nos movia, nos impulsionava...
Hoje, o conhecimento que recebemos não é o mesmo, não envolve nossos sonhos, promessas, esperança. É um conhecimento sem sujeito, que apenas abre portas ou oportunidades para o mercado de trabalho, e depois escraviza o sujeito. E o coloca a serviço de algo que ele mesmo desconhece.
E esse jovem com o qual conversei, sente isso, sabe a diferença de uma coisa e outra. Alguns jovens, em função de sua própria vontade e vida, sentem e percebem isso. Mas, infelizmente, a grande maioria, não.
Esse jovem disse: "esses professores começavam na sala de aula, depois continuavam como amigos num bar, nos corredores, enfim..., e havia sempre muito assunto. Hoje, os caras bebem, enchem a cara, mas não tem assunto nenhum...".
Concordo plenamente, em gênero e grau.
Os artistas e poetas, escritores, dramaturgos, intelectuais eram assim, se faziam desta forma. Nas madrugadas, nas reuniões em casa de um e outro, onde se discutia, e sentavam ao redor de uma mesa, ali mesmo a coisa acontecia, a obra de arte...
O esvaziamento hoje é completo, nas mesas de bar, baladas, coisas do tipo. A capacidade de perceber a realidade, aquele impulso criativo, transgressor, poético, se dissipou. O jovem não mais percebe, se angustia a partir daquilo que vê, e transforma ou pelo menos tenta transformar a realidade. Desconstruir, para construir depois...
O consumismo produziu outra coisa na vida destes jovens...

MARTINS DAGOSTIM, muito obrigada. Filósofo, escritor, poeta, nossa, tínhamos longas conversas... E depois do CEFET, ainda tive a oportunidade de continuar conversando com ele. Profundamente sensível e humano, esse homem. E eu disse a ele: "Você ainda existe, Martins???" E ele me reconheceu. Eu não parava de sorrir de satisfação ao ver que ele permanece exatamente "imortal". Grata satisfação. E extendo essa mesma alegria a todos os demais professores dessa época. Muita alegria, e uma saudade enorme deste tempo.

Nós sobrevivemos e continuamos. Neste momento, estou escrevendo essas linhas aqui, no "farol do saber", do poeta Kahlil Gibran, próximo ao Colégio EStadual onde estudo informática... Gosto de ficar lendo, em silêncio, nestes lugares, ao redor de milhares e milhares de obras, e de pessoas que marcaram a história com suas vidas, trabalhos, conhecimento, sensibilidade. Para mim, isso é um privilêgio, o espírito e a liberdade verdadeiros...

"CARTAS DE AMOR DO PROFETA" - KAHLIL GIBRAN

"Na noite do reveillon de 1915, Kahlil vai visitar Mary. Os dois sentam-se no sofá, e ela pede para abrir o seu colarinho.

Kahlil deita-se, e pede que Mary fique ao seu lado, com a cabeça em seu ombro.

"Você parece estar pegando fogo", diz Kahlil.

"Sim", responde Mary, "porque estou sentada ao lado do forno".

Ele ri: "Sou eu o seu forno?"

Mary conta que o encantamento de água quente havia quebrado. E usa esta analogia para referir-se à relação entre os dois: se um cano tão forte é destruído pelo simples fato de algumas gotas d'água congelarem em seu interior, nenhum desejo é invencível.

Os dois se abraçam, e Kahlil a beija apaixonadamente. A descrição daquela noite termina ai, mas pela leitura de cartas posteriores - depreende-se que nenhum contato sexual existiu; a relação dos dois, embora às vezes torturada pelo desejo, será sempre platônica."

ASSINADO: DENISE FRANÇA






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