PANORAMA DO TEATRO BRASILEIRO - RESENHA
CURITIBA, 25 DE ABRIL DE 2015.
SÁBATO
MAGALDI: PANORAMA DO TEATRO BRASILEIRO
Pontifícia
Universidade Católica do Paraná
Curso
Bacharel em Teatro
Denise
França
Sábato
Magaldi escreveu Panorama do Teatro
Brasileiro em 1926, com a finalidade de publica-lo em outros países, para
que outras culturas pudessem se acercar da História do Teatro Brasileiro. Desde
a sua origem catequizadora, com os padres Anchieta, Nóbrega, até a modernidade.
Nosso autor deixa bem claro, desde a insurgência do teatro vindo da Europa para
o Brasil, já em sua complexidade espacial, os povos que aqui se criaram, também
assim o teatro brasileiro foi amplo, formando-se com a formação do povo
brasileiro. Não poderia ser outro o nosso teatro, segundo Sábato Magaldi. Mesmo
na modernidade, com a introdução de técnicas de direção, com Ziembinski em
Vestido de Noiva, quando se prefere certamente acreditar que o diretor
transforma o teatro brasileiro, podemos dizer anteriormente que o diretor se
apaixonou pelo efeito brasileiro de ser. E assim foi. A modernidade brasileira
no teatro não é nada mais do que o jeito
e o ato de fazer culturalmente estabelecido pelo povo brasileiro. Seguiu-se o
Teatro de Comédia e o Teatro de Arena em
São Paulo, a partir das expressões e
manifestações políticas que eclodiram nesta mesma época. Sábato Magaldi demarca
os espaços do regionalismo brasileiro, a obra de Suassuna, a obra política e
crítica deste sujeito compondo os mundos do nordeste brasileiro, a alegoria dos
sertões em espírito que transfiguram este humano brasileiro em esperança. Os
cordéis, o atacado regionalista em cena nas feiras de Santana. A emissão desta
religiosidade que vem desde os padres catequistas, adquirindo ao longo do
tempo, a transfiguração nestes personagens do teatro que marcam em cena, como O
auto da compadecida, de Dias Gomes, a esperança de um povo, crucificado. E
assim é, para nós, a obra de Sábato Magaldi, um feixe complexo de relações que
só pode ser compreendido através de um estudo aprofundado destes episódios
históricos, da prevalência do homem brasileiro, causa de um enredo que se
queria compor através de um olhar que vem de fora, e efeito das constatações do
fato, oriundo da compreensão de uma sintaxe própria, linguagem brasileira e não
portuguesa. A história sempre será uma produção de significados outros, quando
recontada. A crítica teatral e a imersão de Sábato Magaldi nos fatos e
contextos históricos, permite evidenciar o quanto este autor prima pelo
respeito à arte, os acontecimentos, as
opiniões e o registro destes fatos. Só assim podemos precisar e elaborar o
processo de modificação e transformação de um povo em seu fazer criativo. O que
faz a atualidade de uma obra, mesmo crítica em seu tempo. O que vale dizer, a
obra de Sábato Magaldi é um estado de exegese que desloca o signo ao
significado, ou seja, quando se pretendia civilizar o povo brasileiro num fazer
europeu, na arte, o que pudemos comprovar na plenitude deste ato, a uma
civilização brasileira, o ato de um
povo, em sua diferença cultural: nossa brasilidade. E isso é fazer uma
crítica comprometida com a verdade, segundo Magaldi. Aquele que se compromete
com o objeto de seu estudo, está disponibilizando esse tempo, a história, sobre
seus frutos, e consequentemente, deixando a possibilidade de olhar a qualquer
tempo e a qualquer momento, absolvendo-se do julgamento que cristaliza essa
história e modifica sua verdade. Haja visto que os vestígios deixados pelo
artista são sabiamente uma autentificação de passagem, transcendência e não
arbitrariedade, individualismo radical. Percorrendo os meandros da obra de
Sábato Magaldi, as esquinas da memória, observamos além do jornalista e crítico,
o escritor em seu pleno desenvolvimento.
Porque literatura é estilo. E estilo é verdade. Intransferível o estilo de um
autor: impossível de reprodução. Sábato Magaldi tem em sua pena o poder de se
fazer presente no passado que o antecedeu, como um olhar fotográfico. O que nos
faz pensar sobre o espírito do artista, sobre a transcendência atemporal da
obra. A construção histórica do teatro brasileiro são esses ladrilhos calcados
neste solo de brasilidade. Depurar o seu sentido e sua importância só cabe a
alguém que o pode atestar a veracidade, recuperando todos os hiatos, silêncios,
pausas, até alçar a voz que se fez presente no agora, do ato cênico. É assim o
ato de representar, de atestar a presença, a perenidade do personagem.
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