ESTIAGEM - DENISE FRANCA

Curitiba, 17 de maio de 2014.

O escritor Vítor Hugo, baiano mais por
demais, pediu-me uma crônica acrônica: A CRONICÁLIA.
Por demais procurei,  olhos de Curitiba, andando vi, parando auscultei batidas insanas do coração, 
se me faltas, travo com as lembranças, lutas indecifráveis sem resposta. Por que  não me amas, ou aguardo  o nome só de um homem e não a pessoa? Não me pertences, ou pago o aluguel deste nome e desta pertença?
Questões em torno, o Inter Bairros I chega a PUC.  Corredores universitários de meninos e meninas
quase gnomos. O teatro, lugar onde estendo meu corpo ao solo, vario, dou sentido à quase premonição que me encontra em esquinas aproximadas.
Universos paralelos indicam razoavelmente que estou em ti mais do que tu. Por causa desta eficiência incômoda, vejo minhas patas duras coladas ao chão, domesticamente trabalho a vassoura,  personifico  as muitas mulheres do povo enfileiradas  numa coreografia magnifica, os lados do fogo, os lados da fuga, as lages de uma esperança ainda que tarda ou nunca.
Afinal, volto ao portão, abro a coleira, nesta hora ele passa por mim e curiosamente grosseiro, repara no meu perfil: doméstica, dona de casa, empregada? Assalariada? Gostosinha? Vagabunda?
Esse infeliz não sabe  nada de mim,  quando ele passa  sincronizando  seu tempo ao meu, heroicamente reabro o baú de ossos, lembro de Vítor Hugo, por demais, é a cara dele.  O médico harmoniosamente passa por mim e sai ás custas de mim, sorrindo, receitando a sua medida.
Preciso muito escrever sobre isso, tocar o inefável de um tempo em retorno. A volta do Inter Bairros,
AURORA DA MINHA VIDA.
Em algum lugar no árido sertão, uma gota de água desliza sobre a Rocha.
E o nome do Rocha salga meus olhos...
Estiagem.




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