TRISTEZA OU DEPRESSÃO? - DENISE FRANÇA

CURITIBA, 23 DE JULHO DE 2013.

TRISTEZA OU DEPRESSÃO?


COMENTÁRIO SOBRE O TEXTO DO DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE.

Gosto muito daquilo que o Doutor Flavio Gikovate escreve. Por quê?! Digo: pelas mesmas considerações que ele colocou neste texto: “Tristeza ou Depressão?” Assim como ele, não sou uma pessoa dogmática e não gosto de pessoas radicais. Eu sempre digo: não sou PSICÓLOGA! Digo isto também para que não me acusem de não ter terminado a FACULDADE DE PSICOLOGIA, e estar falando a respeito dos psis.

Eu sou AUTODIDATA. A minha vontade de SABER, EXISTE DESDE QUE ME CONHEÇO. E eu sempre busquei REFERÊNCIAS, E BOAS REFERÊNCIAS, em todos os setores: literatura, filosofia, psicologia, antropologia, etc e tal. Li e reli vários livros. Uma leitura do mesmo nunca foi o suficiente. Entrei para a Faculdade de Psicologia aos 23 anos de idade, e nada ali me pareceu novidade, porque eu já havia estudado grande parte daqueles conteúdos. Ora, algumas pessoas perguntam, mas então, já que você estudava Psicologia, por que não terminou a faculdade????

Nossa, é incrível o quanto algumas pessoas “radicais” tentam, inexplicavelmente, nos colocar na berlinda com esse tipo de pergunta. Eu nunca tive necessidade de me representar através de um DIPLOMA ou, de um MESTRE. Nunca precisei de alguém para comprovar o que sei e o que não sei. Quando estava fazendo a Faculdade, começei também minha análise pessoal, e todas estas questões eram colocadas neste trabalho.

A PSICANÁLISE me pareceu particular e original, foi em torno dela a minha atenção maior. Eu cursava a faculdade de psicologia, porque esta era uma exigência do meu pai: ter um diploma. Estudava Psicanálise por gosto mesmo, tinha a ver com aquilo que eu observava e procurava. E meus estudos da obra FREUDIANA foram pra mais de 10 anos....

Eu li a obra de Freud em espanhol, uma das melhores traduções. O meu Psicanalista, tive esse privilégio, e privilégio mesmo, realmente tinha conhecimento da sua prática, da clínica. Meu psicanalista, Doutor Helvídio Velloso, era médico, pediatra, psiquiatra, e psicanalista. Além, é claro, de ter sido do exército Brasileiro: Agulhas Negras. O cara, tinha um conhecimento e uma prática, bem superior a todos que até então eu havia conhecido.

Freud dizia: a autorização para a prática da psicanálise é conferida pelo sujeito, através de sua análise pessoal, e o estudo de sua obra. Não existe ALGUÉM QUE AUTORIZE A PESSOA NESSE PERCURSO, E POR ESSA MESMA RAZÃO, NÃO EXISTE “DIPLOMA” DE PSICANALISTA.

No momento em que frequentava a Faculdade de Psicologia, percebi muitas coisas: a “neura” dos alunos em torno do conhecimento que absorviam. No terceiro ano de Psicologia, todo mundo procurava se “enquadrar” nos tipos psicológicos, e por conseguinte, os outros também. Um conhecimento “absorvido”, como a própria palavra faz alusão, é absorvente mesmo, entra, mas a pessoa que absorve este conhecimento não quer dizer que tenha a capacidade de elaborar esse conhecimento para si mesmo, e fazer um “escoamento” desta absorção. Filtrar aquilo que está sendo absorvido. Tudo isso eu percebi desde o começo e sempre levei para a análise, e minha análise pessoal foi “séria”, não era um passatempo, uma coisinha bonitinha....

No transcurso de minha análise, eu também lia muito, a obra de Lacan, Freud, o estruturalismo, a linguagem, e outros tantos... E elaborava textos, fazia análise de leituras, etc. Já na Faculdade, no terceiro ano do curso, me procuravam para o auxílio em monografias, e interpretações de texto, principalmente os textos freudianos. Minhas amigas e amigos de turma tinham confiança em mim.

Todas essas considerações tem exatamente o MESMO VALOR daquilo que o DOUTOR FLÁVIO GIKOVATE tem passado e repassado em seus textos e vídeos. E é por isso mesmo, que eu me interessei pelo trabalho dele.

No momento em que fazia a análise pessoal, no COLÉGIO FREUDIANO DE CURITIBA, eu ainda não tinha ciência do que acontecia naquela instituição. Eu via as psicanalistas ali com muito respeito, achando que se tratava de um trabalho sério, tal qual o meu....

ACONTECE QUE.... ACONTECE QUE OS FATOS MODIFICAM MUITAS COISAS NA ÁREA DO PENSAMENTO. Muitas coisas aconteceram em minha vida, mesmo porquê eu estava mais numa posição de para-raios dentro de minha família, na repercussão de minha vida pessoal, sentimental, e para-raios enquanto eu era um espelho de acomodação do que via e sentia.

UMA PESSOA QUE PENSA E ELABORA SEUS PENSAMENTOS ACERCA DO QUE VÊ E DO QUE VIVE, acaba nesta posição, e atrai todo tipo de coisas: sentimentos de inveja, ciúme, etc.

E era assim....

Fui convidada para trabalhar no COLÉGIO FREUDIANO DE CURITIBA, pelo Velloso. Minha intuição sempre foi superior a tudo. Eu sabia que aquele espaço era um espaço “fechado”, e minha entrada ia animar uma séria de outras coisas. Foi o que aconteceu, eu aceitei o pedido dele, fui e levei meu material de trabalho junto. O grupo, as psicanalistas, que eu considerava com muito respeito, não sabiam porquê eu estava ali. A princípio fui recebida bem, entrei em contato com elas, conversei muito, estimulei o trabalho de algumas... enfim. Na continuidade, por causa e em função daquilo que o Velloso representava naquele lugar, e de seu convite em relação a minha pessoa, as coisas começaram a mudar paulatinamente.... Fui verificando que as atitudes das psicanalistas não eram assim tão éticas e profissionais como eu imaginava ser a atitude de alguém que trabalha como psicólogo e psicanalista....

Ali dentro, em contato diário com o trabalho de todos aqueles sujeitos, eu vi a REALIDADE. OS FATOS! Houve momentos em que realmente eu não sabia mais o que pensar, porque o que via e observava era tão ABSURDO, tão irreal, o quanto aquelas pessoas estavam distantes do que era a obra de Freud, e do que era a vida e a relação de verdade com o SABER, COM O CONHECIMENTO.

CONTRARIEDADES, muitas contradições, entre o que se diz e o que se faz.

A pessoa do Velloso, a minha consideração em relação a ele, não mudou. Mas a sua vida privada, particular, estava de tal jeito, repercutindo em seu trabalho. Ali dentro do Colégio Freudiano de Curitiba, comecei a elaborar muitas coisas, e desenvolvi um estilo próprio para lidar com aquela situação fora do comum em relação a minha pessoa. Para conseguir sobreviver ali, e dar conta do que acontecia.

SOBREVIVÊNCIA! Por que as coisas chegaram aquele absurdo, “se ficar o bicho pega, e se correr o bicho come”.... ?!

O RECHAÇO E A INTERPRETAÇÃO DELIRANTE...

Por isso, minha gente, é SALUTAR DIZER, imaginem o cenário onde começaram todas as ciências relativas às doenças psíquicas, Freud, Charcot, Breuer, Jung, e por aí a fora. É exatamente isso que os alunos não sabem, não elaboram em suas vidas.... Essas pessoas, esses MESTRES, não eram destituídos de problemas pessoais, dilemas. O conhecimento deles foi elaborado paulatinamente dentro de um momento histórico, e sofreram as mesmas vicissitudes que sofrem todas as pessoas que trabalham com o ser humano e elaboram pensamentos, elaboram teorias, sistemas, enfim....

Por isso é importante procurar ler a vida dessas pessoas, em sua particularidade.

Os alunos que estudam Psicologia, Psiquiatria, etc. e tal, absorvem esse conhecimento de há muitos anos, décadas, e só fazem isso, param por aí.... Quando nos aproximamos de um professor, psiquiatra, doutor, psicólogo, etc., nos aproximamos com aquela sensação de estar falando com um MESTRE, e imaginamos que a vida dessa pessoa é uma coisa de “louco”, que esse sujeito é detentor de um saber, que ele “sabe” mesmo.... VÃ ILUSÃO!!!



Alguns mestres se distinguem, outros só são mesmo um ESPELHO, aparência, sustentam um saber, tornam esse saber propriedade deles, usam e abusam deste saber, se “autorizam” em relação aquilo que pensam que sabem, cobram um custo alto para repassarem esse saber, e ao final de tudo, o que sabem, é o que deixaram de saber. Não sabem.

A minha análise com o Doutor Velloso trabalhava o tempo todo essas questões, eu nunca me furtei em relação à verdade, mesmo que essa verdade custasse muito caro.... E isso tem um nome: ÉTICA.

E custou caro!!! A HONESTIDADE EM RELAÇÃO A TUDO AQUILO QUE EU APRENDI, E TUDO AQUILO QUE EU VIVENCIEI, CUSTOU BEM CARO, UM PREÇO EFETIVAMENTE CARO!

Por isso mesmo não terminei a FACULDADE DE PSICOLOGIA. E por isso mesmo, telefonaram do COLÉGIO FREUDIANO DE CURITIBA para a minha casa, pedindo que eu retirasse “minhas coisas” daquele lugar....

Nesse momento, também entendi o que significara a EX-COMUNHÃO do Doutor Jacques Lacan da Sociedade Psicanalítica.

FOI ASSIM, E ASSIM SERÁ.

Chorei muito.... Mas eu chorei mesmo.... Perdi todas as ilusões no que diz respeito a esse tipo de “instituição”. São poucos, são muito poucos aqueles que “sabem” e fazem bom uso do que sabem. E principalmente no que diz respeito à EMPÁFIA DOS DOUTORES.... A VIDA NOS ENSINA MUITAS COISAS: A VIDA NOS COLOCA EM SITUAÇÕES PECULIARES, EM SITUAÇÕES QUE NOS COLOCAM À PROVA.

A COMPLEXIDADE DA MENTE HUMANA, DO SER-HUMANO É MUITO GRANDE. E a vida, é sempre mais do que a vida. Precisamos ter HUMILDADE, HUMILDADE NO TRATO COM A VIDA DE OUTREM.... E precisamos urgentemente, renunciar a essa onipotência egóica que nos faz acreditar que somos o lugar que ocupamos...

QUANTO À DEPRESSÃO E TRISTEZA, o cérebro, a alma, o corpo, o eu e o outro, tudo isso está inter-relacionado.

Entramos numa farmácia, fazemos isso bastante..., compramos uma cartelinha de comprimido para resfriado, ou outro tipo de medicamento. E ali mesmo na farmácia, existem estantes com chocolate, biscoitos, etc. e tal.... Isso é uma INFORMAÇÃO que o nosso cérebro capta, a realidade ordinária. Nós assimilamos isso, o tempo todo, de todas as formas...

Saímos da farmácia, voltamos para casa, pegamos nossa bagagem, vamos até o aeroporto, pegamos o avião, que nos deixa em MANAUS, e no centro de MANAUS, nos conduzimos através de uma canoa, para o centro da AMAZÔNIA. Uai, chegamos ao centro da AMAZÔNIA, e estamos diante de um pajé... E ali existem outros elos, outro tipo de ligação, de conhecimento... A percepção da realidade é outra, os elos são outros, os laços de parentesco são outros.... E aí, nossa, e aí, que maravilha!, a gente aprende outra coisa....

Saímos da Amazônia, nossa, e voltamos ao Brasil, entramos num SEMINÁRIO das irmãs CARMELITAS, elas não podem ter contato com o mundo aqui fora, e começamos a observar essas irmãzinhas.... e então, nossa, que maravilha, aprendemos outra coisa...

O QUE EU APRENDI COM A OBRA FREUDIANA, não tem nada a ver com aquilo que a maioria dos psicanalistas transmitem... O que eu realmente aprendi com Freud, está em mim até hoje... Aprendi a gostar muitíssimo da antropologia, nessas relações de espaço e tempo, história, memória, acho isso importantíssimo para a absorção do conhecimento, e elaboração conceitual.

E, penso, a convivência diária com o ser humano, mesmo em nossa vida ordinária, simples, nos mostra várias coisas. Mas precisamos ter a vontade de olhar este ser humano, e de olhar a nós mesmos com vontade, como se fosse a primeira vez...

O Doutor Velloso dizia, “esse é o meu estilo”... E nisso eu me distingo de Lacan. Eu quero que vocês saibam para onde eu os levo... Quem tiver suporte, fica. Quem não tiver, não fica.

A minha direção, para aquilo que eu aprendi, custou muito mesmo. Eu não sou psicóloga, não sou psiquiatra, não sou psicanalista. Sou o que sou. Das coisas que falo, eu sei. Gosto de aprender, gosto da convivência humana diária em todos os setores. E aprecio as diferenças.

A criatividade humana e a possibilidade de transformação dependem da renúncia desta soberba que pulula instituições, cargos, funções, atribuições.

Eu não me coloco como superior a ninguém. E NINGUÉM É SUPERIOR A MIM. Essa é minha base, o chão aonde piso no que se refere ao conhecimento.

Quando digo: A VIDA É MAIS DO QUE A VIDA! Digo: nós suportamos o sofrimento bem mais do que a felicidade. Suportamos o inferno bem mais do que a paz e tranquilidade.









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