A LEI DO APEDREJAMENTO - por Diadorim Sabiá

A LEI DO APEDREJAMENTO

GUARDAR COMO: ANTES QUE SE APAGUE, MAIS DO QUE SAUDADES

Eu não sou toda. Toda alegria, toda esperança, toda vontade, toda paixão, toda. Ao menos, em certas horas, eu cumprimento uma saudade louca que chega e explora minha vontade, me derruba como o sono do cansaço e interroga todos os meus caminhos e descaminhos. Eu sei que vivi o que vivi, e se vivesse outra vez, viveria o que vivi, simplesmente não me despeço dos momentos de vida, mas eu os tanjo com um beijo e os aninho bem perto do meu colo e eu os cuido por terem nascido de mim. Não foram frutos do acaso os momentos da minha vida, mesmo os mais efêmeros, mesmo aqueles que não consegui perceber, e nem tocar.
A saudade ou qualquer coisa bem parecida com ela, me pega ali, justamente ali onde não compreendo alguns fatos. Eu não compreendo porque sou tão sozinha, mediante tamanho amor. Não compreendo porque a amizade é virtual na maioria das vezes, não compreendo essa facilidade em deletar uma página de história de vida. E é justamente aí, nesse apêndice de mim, onde algumas dores, e a tristeza fabricam um ritmo todo particular de pulsar.
Expulso do meu coração, o perdido flagelo do afeto, nesse asfalto massacrado de intenções frágeis, pouco duram, pouco crescem para um sentimento. Mas roçam como um véu de tranças marcadas, pelo meu corpo. Não sentiria nada, se a presença do meu corpo não indicasse um motivo para essa falta de amor.
Às vezes, muitas vezes eu penso, será que fabrico ilusão?! Eu fiz um nicho dentro do meu coração para você estar, será que fabrico ilusão?! Não tenho falsos pudores como me ensinaram persistentemente a tê-los. Sutil e leve, fácil de ficar, está em mim esse lugar. Eu sinto isso quando olho bem no fundo dos olhos que me olham. Eu sinto isso quando o calor da tua pele roça no da minha pele, mas você não está ali, nem aqui, talvez nunca estará. Talvez mesmo nunca esteve. Mas eu sinto a presença do desejo neste vão da sensação, no entusiasmo de um momento.
Agora mesmo, me foi dado o abraço mais querido, me foi dado o beijo mais molhado, me foi dado o prazer como outrora foi me dado a falta de prazer. Não suspeito da certeza desta sensação, nem do prazer, nem do desejo. Sinto e não me engano. Suspeito das inúmeras tentativas de cimentar o sentimento, de decifrar suas rotas, de estudar e analisar sua moral ou sua decência.
É profundamente imoral o ser-humano viver sem amor. Não há vida sem amor. Mentem de todas as formas possíveis. E se não bastasse fazem aquilo que considero o lugar nascituro de todas as perversões: aliam o amor ao dinheiro. Criam uma falsa relação entre o amor e o dinheiro. Dizem que sem o dinheiro não há felicidade, e criam as crianças desde o seu berço para apostarem nisso, o dinheiro tornou-se um ser.
POR ISSO HÁ FALTA DE AMOR.
Viver de novo. Outra vida. Não estou falando de reencarnação. Mas de ressurreição. Uma vez que o fio passa pelo buraco de uma agulha, uma vez que a linha está colocada, uma vez que o alinhave foi feito, coloco este termo antes da vida, ressurreição. Não depois, postumamente, como muitos acreditam, mas antes. Como era no princípio, agora e sempre...
Viver de novo. Estou aqui, por isso me preocupa o sentido da vida, e o jeito como a vida está sendo vivida. Eu não construirei um fundo falso dos meus sentimentos, e os balizarei em falsas promessas, mas eu viverei meus sentimentos e os tornarei novos em meu nome. Feito a madeira de lei. Sem culpa de vive-los, de dizê-los. Concentro a minha vida em tudo o que faço, eu sinto a energia que corre em minhas veias. Eu sinto o meu pulso, eu sinto o beijo que dou, o abraço que dou, o amor que eu te amo. Eu te chamo pelo nome, não és qualquer um.
Por que matam a vida?!
Acreditam que tem esse poder de dilacerar a alma, o espírito?! Que encerram a vida de uma pessoa com rajadas de bala, com facadas, com a crueldade?! Não. NÃO.
Insuportável não é a vida, a vida é bela. A vida é uma dádiva. Não é possível matar a vida.
Leis insensatas: a Lei do Apedrejamento. “Atire a primeira pedra aquele que não tem pecado”. Você consegue enxergar o outro? Você consegue me ver? Você sabe quem eu sou? Você me conhece? Você um dia conversou comigo? Você viveu a minha vida? A pedra que você atirar sobre mim, esta pedra tornará sobre você.
AINDA NÃO VIVI TUDO.

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